Título: EUA procuram emprego
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Fonte: O Globo, 08/11/2008, Economia, p. 31
Desocupação atinge 6,5% em outubro, maior taxa em 14 anos, devido à crise financeira.
Do New York Times*
Com o congelamento do crédito e a queda do poder aquisitivo, os Estados Unidos estão fechando postos de trabalho no ritmo mais acelerado desde 2001. Essas perdas podem atingir níveis não vistos desde a profunda recessão do início dos anos 1980. Em outubro, as empresas fecharam 240 mil vagas - o décimo mês consecutivo de queda -, e o índice de desemprego passou de 6,1% para 6,5%, o maior patamar desde 1994, informou ontem o governo americano.
A alta do desemprego é um claro sinal de que a desaceleração econômica atingiu famílias e empresas. Este ano, já foram fechados 1,2 milhão de postos de trabalho. "O consumidor americano, que por muitos anos foi o motor global do crescimento, agora é o calcanhar-de-aquiles da economia mundial", afirmou em nota Joshua Shapiro, economista da consultoria MFR.
- As empresas estavam mais cautelosas em contratar, em vez de demitir. Em setembro, concluíram: "Esta não é uma mini-recessão, é uma recessão completa. É melhor agirmos". E agiram - afirmou Nigel Gault, economista-chefe da consultoria IHS Global Insight.
O Departamento do Trabalho também revisou dados dos meses anteriores. Foram fechadas 284 mil vagas em setembro, bem acima das 159 mil informadas anteriormente. Foi o maior corte mensal desde setembro de 2001, logo após os atentados terroristas nos EUA. Em agosto, a perda passou de 73 mil para 127 mil vagas.
Os mais afetados foram faxineiros, trabalhadores administrativos e temporários, com 57 mil vagas fechadas em outubro. Muitos economistas acreditam que o índice de desemprego atinja 8% em meados de 2009, um nível não visto nos últimos 25 anos.
Estados sem caixa para pagar benefício
Esses dados vão alimentar o debate sobre a necessidade de novas medidas de estímulo do governo federal. Também mostram a dimensão do desafio que o presidente eleito, Barack Obama, terá de enfrentar.
O governo de George W. Bush, ao comentar o aumento do desemprego, fez a defesa de seu pacote de US$700 bilhões contra a crise.
- Os programas que estamos implementando vão melhorar o fluxo de crédito para consumidores e empresas para estimular o crescimento da economia, a criação de empregos e a estabilização dos mercados financeiros - afirmou a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
O aumento do desemprego também tem causado problemas para os governos estaduais, que estão ficando sem recursos para pagar o seguro-desemprego. As autoridades estão considerando elevar os impostos cobrados dos empregadores ou limitar os benefícios. Enquanto isso, os estados têm de pedir empréstimos ao governo federal para cobrir os pagamentos.
- Alguns estados não têm reservas adequadas - disse à CNN Andrew Stettner, vice-diretor da ONG National Employment Law Project.
Na quinta-feira, o Departamento do Trabalho informou que o número de beneficiários do seguro-desemprego atingiu 3,84 milhões mês passado, o maior patamar em 25 anos.
O estado de Michigan, particularmente afetado pela crise das montadoras - é lá que fica Detroit, sede de Ford, GM e Chrysler -, não tem praticamente mais nada em suas reservas, informou Norman Isotalo, porta-voz do Departamento estadual do Trabalho. Ele explicou que os pedidos de seguro-desemprego cresceram 21% em relação ao ano passado. Em setembro, o desemprego no estado atingiu 8,7%. Ohio e Nova York também têm enfrentado problemas, segundo o site CNNMoney.
A crise da economia americana chegou até aos hospitais, que têm registrado queda no número de pacientes pagantes e aumento daqueles que dão entrada na emergência sem ter como quitar a conta. Quem tem seguro saúde está adiando cirurgias da articulação do joelho, de hérnia e de redução de estômago - as mais rentáveis para os hospitais.
Segundo Ted Epperly, presidente da Academia Americana dos Médicos de Família, para alguns pacientes trata-se de escolher entre uma cirurgia e necessidades básicas como alimentação e aquecimento.
- Os hospitais não são mais à prova de recessão - disse David Rock, consultor de seguro-saúde.
Outro dado ruim divulgado ontem foi a queda de 4,6% nas vendas pendentes de imóveis usados em setembro. Uma venda é considerada pendente quando o comprador faz a oferta, mas o acordo não foi fechado.
(*) Com agências internacionais