Título: Melhorou, mas continua fraco
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2009, Economia, p. 20

Indústria cresce 2% em janeiro na comparação com dezembro, mas cai 17% em relação a igual período de 2008

-------------------------------------------------------------------------------- Ricardo Allan Da equipe do Correio Após três quedas mensais consecutivas, a produção da indústria brasileira voltou a crescer em janeiro, mas num ritmo muito inferior à expectativa dos analistas. A expansão foi de apenas 2,3%. Diante do tamanho do tombo em dezembro (-12,7%), os economistas esperavam uma recuperação em torno de 8,5%. Apesar do pequeno alívio, a situação no setor ainda é grave. O próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do governo responsável pela coleta dos dados, acredita que a crise internacional continuará afetando seriamente o volume produzido pelas empresas nacionais. Em relação a janeiro de 2008, a retração foi de 17,2%, a maior contração da série histórica iniciada em 1991. Nesse critério, foi a terceira baixa seguida.

A produção caiu 18,2% no acumulado entre outubro e janeiro, período de agravamento da crise, depois da quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers. No quadrimestre, as perdas do segmento de bens duráveis, muito sensível à redução do crédito, foram de 29,7%. O ramo de bens de capitais, derrubado pelo adiamento dos planos de investimento das empresas, caiu 20,4%. ¿Essas são as duas áreas mais sensíveis ao crédito e foram bastante afetadas pela crise. Em janeiro, a produção parou de cair em relação ao mês imediatamente anterior, mas não o suficiente para levar o nível de volta ao ponto de novembro. A tendência ainda é negativa¿, afirmou o coordenador de indústria do IBGE, Sílvio Sales.

No acumulado em 12 meses, a produção está crescendo 1%, a taxa mais baixa desde fevereiro de 2004 (0,2%). Analistas privados também ressaltaram que o pior está longe de ter passado. O economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, considera o indicador de janeiro apenas uma ¿descompressão¿ em relação à forte queda de dezembro. ¿Isso não significa que vamos voltar à normalidade¿, observou. Na estimativa de Silveira, o índice da produção industrial está evoluindo de maneira desfavorável em comparação com um ano atrás e deve fechar 2009 com queda de 1,5% a 2%. ¿A indústria simplesmente não vai crescer este ano¿, assegurou. Segundo ele, o quadro internacional permanece ¿muito ruim¿, o que dificulta a recuperação da cena doméstica.

Na avaliação do banco Santander elaborada com dados preliminares de fevereiro, a produção voltou a cair no mês passado, embora num ritmo mais lento do que o registrado no último trimestre de 2008. Segundo o relatório distribuído a seus clientes corporativos, os indicadores apontam para contrações ¿severas¿ tanto no mercado interno como no externo, com diminuição dos novos pedidos às indústrias. As empresas continuaram demitindo parte dos seus funcionários e diminuindo as compras de insumos. Os preços das matérias-primas caíram pela primeira vez desde o início da pesquisa, o que demonstra o enfraquecimento contínuo do setor industrial. Ajustes O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgou um relatório pessimista sobre a produção. ¿O fato é que esse `respiro¿ da indústria em janeiro foi muito modesto e, por enquanto, nada revigorante. Ou seja, o ajuste de janeiro é muito parcial e está longe de recompor os níveis de produção correspondentes ao período anterior à crise¿, assinala o comunicado. Entidade representativa da indústria paulista, o Iedi aproveitou para pressionar pela adoção do que chamou de ¿melhores políticas econômicas¿: redução mais rápida de juros, recomposição e barateamento do crédito, incentivo ao investimento privado e reforço nas obras públicas em infraestrutura e habitação.

Segundo os dados do IBGE divulgados ontem, 75% dos 755 produtos pesquisados tiveram queda na produção em relação a janeiro de 2008, numa mostra de que a crise está afetando a ampla maioria das indústrias. Dos 27 segmentos analisados, 26 registraram recuo nessa comparação. Só o ramo de outros equipamentos de transporte escapou (alta de 39,2%), puxado pela produção de aviões. As atividades que mais contribuíram para o recorde negativo do indicador foram: veículos automotores (-34,5%), produtos químicos (-29,2%), metalurgia básica (-31,3%), máquinas e equipamentos (-24,4%) e material eletrônico e equipamentos de comunicações (-45,9%).

A fabricação de automóveis foi preponderante no crescimento em relação a dezembro. Nessa comparação, o sinal ficou positivo em 15 ramos e negativo em 12. Num reflexo do retorno parcial das férias coletivas concedidas pelas montadoras e da recuperação das vendas, a produção de carros aumentou 40,8%, depois de uma queda também de exatos 40,8% em dezembro. ¿Há notícias de que já se formam filas de espera e os trabalhadores estão sendo chamados de volta à linha de produção¿, disse Sales. Também reagiram as atividades de material eletrônico (28,4%), borracha e plástico (13,6%), têxtil (10,3%) e alimentos (1,6%). Os destaques negativos foram: máquinas e materiais elétricos (-9,5%), refino de petróleo e produção de álcool (-3,6%), e metalurgia básica (-4,7%).

-------------------------------------------------------------------------------- A indústria simplesmente não vai crescer este ano

Fábio Silveira Economista da RC Consultores

-------------------------------------------------------------------------------- Colaborou Vânia Cristino