Título: Universidades federais farão reforma curricular
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 13/11/2008, O País, p. 9

Segundo balanço do MEC, 20 instituições vão adotar mudanças como cursos de graduações interdisciplinares

Demétrio Weber

BRASÍLIA. A expansão das universidades federais virá acompanhada de reforma curricular. No ano que vem, algumas instituições oferecerão graduações interdisciplinares, espécie de ciclo básico com duração de três anos e direito a diploma. Outra inovação será permitir que universitários da área de ciências exatas estudem um ou dois anos antes de escolher o tipo de engenharia que querem cursar.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) adotaram uma ou mais inovações. Balanço do Ministério da Educação mostra que mais de 20 instituições pretendem mexer nos currículos em 2009.

A principal novidade são os bacharelados interdisciplinares. A UFBA tem o projeto mais ousado e vai oferecer 900 vagas em quatro cursos de artes, humanidades, saúde e ciência e tecnologia. A UFRN atenderá 500 alunos no bacharelado interdisciplinar de ciência e tecnologia.

Na federal da Bahia, cada área terá um terço de disciplinas comuns aos respectivos alunos. O restante será de livre escolha, permitindo que o estudante direcione a formação. Com o diploma, poderá ingressar em mestrados ou fazer concursos públicos que não exijam especialidade profissional. Uma das dúvidas no meio acadêmico é o que farão esses bacharéis.

O novo modelo poderá ser aplicado aos cursos de jornalismo. Os estudantes fariam o ciclo básico de três anos e completariam a formação com mais dois anos para também receber o diploma de jornalista. A lógica é que o ciclo básico dê um diploma genérico e o curso tradicional, o certificado prossional.

Favorável à novidade, o presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, Paulo Barone, diz que eles terão perfil, por exemplo, de gestores de políticas públicas em prefeituras.

Proposta divide opiniões no meio acadêmico

Barone lembra que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) prevê a distinção entre formação acadêmica e profissional. O modelo está em vigor desde 2007 na nova Universidade Federal do ABC, em Santo André (SP):

- É um progresso para o Brasil, que assim segue a experiência européia e americana.

Os novos formatos são estimulados pelo Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do MEC. A proposta, porém, divide opiniões no meio acadêmico.

- Os cursos de graduação têm um formato conservador. É preciso ajustar nossas metodologias de ensino e currículo às necessidades do século 21 - diz o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Amaro Lins, que é reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A UFPE não oferece bacharelados interdisciplinares. Este ano, adotou o sistema de ingresso único em que estudantes das engenharias cursam as mesmas disciplinas no primeiro ano e só escolhem a carreira (engenharia civil, mecânica, etc.) no segundo. As vagas são preenchidas conforme as notas.

Na UFRN, a idéia é que o ciclo interdisciplinar seja um degrau para cursos tradicionais. O coordenador do Reuni na instituição, Fred Pinheiro, lembra que o ingresso no segundo ciclo levaem conta as notas:

- Vamos provocar a competição. O estudante terá motivação para se empenhar mais.