Título: Petrobras arrasta a Bolsa
Autor: Rosa,
Fonte: O Globo, 13/11/2008, Economia, p. 21
Estatal cai 13% e Bovespa, 7,75%. NY cai 4,73% com medo de recessão
Bruno Rosa*
Aqueda do consumo, a face mais visível da crise financeira global, determinou o rumo dos mercados acionários ontem, com a perspectiva de lucros menores para as empresas e desaceleração prolongada. No Brasil, a instabilidade internacional e o expressivo aumento das despesas operacionais da Petrobras no terceiro trimestre deste ano fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desabar 7,75%, aos 34.373 pontos. Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 4,73%. Nasdaq caiu 5,17% e S&P, 5,19%. O baque foi provocado pela redução na projeção de lucros da rede de eletroeletrônicos Best Buy, devido à queda no consumo. Suas ações caíram 8%. Além disso, o anúncio de que o Tesouro dos EUA não vai mais comprar ativos com problemas - o objetivo original do pacote de US$700 bilhões - foi mal recebido pelo mercado, que viu indecisão do governo.
A Petrobras tem o maior peso do Ibovespa, principal índice da Bolsa: 18,59%, somando ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e ordinárias (ON, com direito a voto). Os papéis PN caíram 13,75% e os ON, 13,25%. Segundo a Economática, a estatal perdeu US$21,406 bilhões em valor de mercado, o segundo maior recuo em um único dia nos últimos 22 anos. A queda das ações foi a maior desde 1999.
Segundo Daniella Marques, analista de renda variável da Mercatto Investimentos, apesar do lucro recorde de R$10,85 bilhões no terceiro trimestre, os gastos da estatal subiram 41%, com o barril do petróleo à media de US$100 no período. Só com estudos e consultorias, afirma ela, a despesa chegou a R$1 bilhão. Com isso, afirma, o fluxo de caixa e os investimentos futuros ficam comprometidos.
- Além disso, a expectativa de retorno com os investimentos no pré-sal está menor, já que o preço do barril caiu para o patamar de US$50. A grande preocupação é a ineficiência da empresa - disse Daniella.
Michele Pereira, analista do setor da Modal Asset, diz que as despesas operacionais não discriminadas subiram de R$900 milhões, no terceiro trimestre do ano passado, para R$2,3 bilhões no mesmo período deste ano. E o gasto com salários subiu 9,5%.
No entanto, o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, garantiu ontem, em reunião com analistas, que a Petrobras fechará o ano com R$50 bilhões em investimentos, 10% a mais que em 2007. Sobre os investimentos no pré-sal, Barbassa reiterou que a crise não deve alterar os planos da estatal, que prevê o início da produção comercial para 2010. Segundo ele, o custo do barril dessa área ainda é viável, mesmo com a cotação em torno de US$60.
O lucro de R$26,56 bilhões nos primeiros nove meses do ano foi o maior registrado no período por uma companhia brasileira de capital aberto nos últimos 21 anos, segundo estudo divulgado ontem pela Economática. O recorde anterior era da própria estatal, com R$22,9 bilhões em 2007. Na terceira posição vem a Vale, com R$19,25 bilhões este ano.
Dólar sobe 2,92%, para R$2,29
No câmbio, o dia foi marcado por forte especulação. O dólar subiu 2,92%, cotado a R$2,29. O Banco Central vendeu US$352 milhões no mercado à vista e fez dois leilões de contratos de swap cambial (em que paga ao comprador a variação do dólar e recebe em troca uma taxa de juros), totalizando US$995 milhões.
O temor de desaceleração da economia global também contaminou os mercados de Europa e Ásia. A Bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,29%. Londres caiu 1,52% e Paris, 3,07%.
COLABORARAM Lino Rodrigues e Ronaldo D"Ercole, com agências internacionais