Título: Caseiro recebe como contínuo de gabinete
Autor: Lima, Maria; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/11/2008, O País, p. 8

Dona Edilamar me indicou para ser contratado lá", confirma.

BRASÍLIA. A funcionária de carreira do Senado Edilamar de Oliveira Nóbrega está envolvida em outro caso rumoroso, que também motivou sua demissão do cargo de chefe de gabinete da liderança do PMDB no Senado: o caseiro Jardiel Conceição Soares, funcionário da casa de Edilamar há quatro anos, é contratado há dois anos pela Vigo, como contínuo do gabinete da liderança, onde ele nunca apareceu para trabalhar. Apesar de receber pelo Senado, que tem contrato com a empresa, ele continua trabalhando na casa de Edilamar, onde foi encontrado pelo GLOBO na tarde de quinta-feira, colocando o lixo para fora.

- Eu fui contratado pela Vigo há dois anos. Mas já trabalhava aqui antes, desde uns quatro anos. Depois, dona Edilamar me indicou para ser contratado lá. Ela não gosta que a gente fale esse tipo de coisa, não - entregou o caseiro Jardiel Soares.

Patroa reage: "Ele não sabe de nada, a cabecinha dele, ó!"

Ao ser indagada sobre o caseiro, Edilamar disse que ele não era visto no gabinete porque ficava mais no escritório da empresa. E ficou furiosa ao saber que Jardiel tinha conversado com o GLOBO.

- Ele não sabe de nada, não tem instrução nenhuma, como pode ter dado entrevista? É um rapaz que não tem um nível de instrução, a cabecinha dele, ó, é desse tamaninho! - protestou Edilamar, juntando os dois dedos para tentar mostrar que o servidor era ignorante.

À medida que era confrontada com as informações da reportagem - confirmadas por outros funcionários do Senado, que preferem o anonimato - Edilamar disse que Jardiel ia para a casa dela só depois do expediente no Senado. Depois alegou que ele estava lá, naquele dia no meio da tarde, porque era seu dia de folga. E garantiu que lhe paga um salário de R$600.

- Quando ele está de folga, faz uns quebra-galhos lá em casa - disse, chamando Jardiel de "meu funcionário".

Informado pelo GLOBO deste caso, o líder Waldir Raupp (PMDB-RO) ligou para o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, que, segundo o líder, concordou com a necessidade de demissão dos envolvidos.

- Fui enganado. Procurei dar o exemplo demitindo imediatamente os meus parentes e de outros diretores. Quando achei que estava tudo resolvido, fui fortemente surpreendido por funcionários de confiança me criando esse constrangimento. Não vou exonerar só um, vou exonerar todo mundo que estiver em situação irregular - disse Raupp.

A empresa Vigo também não retornou os pedidos do GLOBO para comentar o caso. O diretor Agaciel Maia se eximiu de qualquer responsabilidade, afirmando que a fiscalização das pessoas terceirizadas que ficam nos gabinetes é de responsabilidade do chefe de gabinete - neste caso, da própria Edilamar.