Título: G-20: Lula alerta para ameaça de recessão global
Autor: Galhardo, Ricardo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 09/11/2008, Economia, p. 32

Presidente defende nova arquitetura financeira mundial, com maior peso para emergentes, e avisa: "Ninguém está a salvo".

SÃO PAULO. Na abertura da reunião dos ministros de Finanças do G-20 (grupo que reúne países ricos e emergentes), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a necessidade de medidas para evitar que a crise no sistema financeiro afete, na mesma medida, a economia real, com ameaça de "recessão generalizada". Lula demonstrou temor de que o alastramento da crise para os setores produtivos provoque "pânico" e gere mais desemprego e miséria, especialmente nos países pobres ou emergentes:

- Para nós, o que importa é a ameaça de uma recessão generalizada e, na sua esteira, a perda de milhões e milhões de empregos, o aumento da pobreza e da exclusão. Não podemos permitir que o pânico que se instalou em muitos lugares atinja os setores produtivos. Cabe aos líderes mundiais, com serenidade e responsabilidade não nos deixarmos contaminar pelo medo.

Lula admitiu que todos os países serão afetados.

- Nenhum país está a salvo da crise financeira. Todos estão sendo contagiados pelos problemas originados em países avançados. O colapso da confiança nos mercados financeiros dos países desenvolvidos gerou escassez de crédito para o resto do mundo - disse ele. - Mesmo para os países mais preparados, como o Brasil, os empréstimos ficaram mais caros. Fundos de investimento estrangeiros estão sacando suas aplicações no mercado acionário dos países emergentes para cobrir os prejuízos que tiveram nos mercados avançados.

Lula defendeu a maior participação dos emergentes nos mecanismos de controle do capital financeiro. Segundo ele, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apurou que os emergentes respondem por 75% do crescimento da economia global:

- É amplamente reconhecido que o G-7 (grupo dos sete países mais ricos) sozinho não tem mais condições de conduzir os assuntos econômicos do mundo. A contribuição dos países emergentes é também essencial. Precisamos de uma nova governança, mais aberta e participativa. Esta não é a hora de nacionalismos estreitos, de soluções individuais. É hora de um pacto entre governos para a criação de uma nova arquitetura financeira mundial.

Vice-ministro alemão cobra contribuição de emergentes

Segundo o presidente, ao contrário da Grande Depressão que se seguiu à crise de 1929, os países devem evitar o protecionismo comercial:

- A maior abertura do comércio mundial é um excelente antídoto contra a crise.

Lula encerrou o discurso com uma frase de efeito:

- Bilhões de seres humanos, sobretudo os mais vulneráveis, esperam que estejamos à altura dos desafios que a realidade nos colocou por diante. Não podemos, não devemos e não temos o direito de falhar.

A ministra da Economia da França, Christine Lagarde, disse que os países estão trabalhando para chegar a um consenso. Já o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, afirmou que o G-20 é o organismo certo para lidar com problemas mundiais.

- Todos os países importantes estão aqui - comentou, ao chegar ao Teatro Municipal de São Paulo, para um jantar, dentro da programação oficial do G-20.

O ministro de Finanças do Canadá, Jim Flaherty, disse que o momento requer concentração em ações práticas, como uma redução coordenada de juros. E o vice-ministro alemão de Finanças, Joerg Asmussen, defendeu uma maior contribuição dos países emergentes:

- Para a UE, se você quer ter maior poder de voz, deve contribuir mais. Não há almoço grátis - disse ele.