Título: Tarso Genro nega divergências entre a Abin e a Polícia Federal
Autor: Carvalho, Jailton de; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 12/11/2008, O País, p. 4

CRISE INSTITUCIONAL: Material recolhido só será aberto na presença de agentes

Agência desiste de ir à Justiça contra apreensão de documentos e computadores

Jailton de Carvalho e Isabel Braga

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Tarso Genro, minimizou ontem a crise entre a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desencadeada pelas investigações do vazamento da Operação Satiagraha:

- Não há controvérsias entre o gabinete de Segurança Institucional e o Ministério da Justiça nem entre a Abin e a Polícia Federal.

Depois de uma conversa entre Tarso e o general Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Agência Brasileira de Inteligência desistiu de recorrer à Justiça para impedir que a Polícia Federal tenha acesso ao conteúdo de computadores apreendidos na Abin. Ficou acertado que uma comissão da Abin acompanhará a triagem do material apreendido pelo delegado Amaro Vieira, encarregado de investigar vazamento de informações da Satiagraha.

A busca e apreensão de documentos pela PF provocou reação da Abin. Na segunda-feira, a cúpula da agência decidiu ir à Justiça contra a polícia. Numa tentativa de conter os ânimos, Tarso informou a Félix que o material está lacrado. Garantiu ainda que a abertura dos documentos e computadores só se dará na presença de representantes do órgão. Os dados relativos à segurança nacional, destinados ao assessoramento do presidente Lula, serão excluídos da investigação e devolvidos à Abin.

- Ele (Félix) tem toda a razão ao dizer que podem estar nas mãos da PF documentos que não são relacionados com o inquérito (da Satiagraha) e que têm que ser preservados no seu sigilo - disse Tarso Genro.

General insistiu no sigilo dos documentos

O diretor interino da PF, Roberto Troncon, telefonou ao general para assegurar que o material está intacto. Depois das conversas, Félix divulgou nota concordando com a solução sugerida pelo colega. A Abin, pelo menos por enquanto, não entrará na Justiça contra PF. "O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, em virtude de matérias recentemente veiculadas por diferentes órgãos de imprensa manifesta sua confiança na isenção dos órgãos encarregados das apurações ora em curso", diz a nota.

O general reafirmou a importância de que os documentos fiquem em sigilo: "Com relação à busca e à apreensão realizadas no último dia 5, o ministro chefe do GSI encaminhou expediente ao Ministério da Justiça, relatando preocupação com a observância de rigoroso sigilo em relação aos dados existentes no material apreendido. Destacou que a Agência Brasileira de Inteligência detém informações sensíveis do Estado Brasileiro".

Segundo Tarso, as acusações feitas ao delegado Protógenes Queiroz pelo uso por arapongas de senhas de acesso ao programa Guardião, para gravações da Operação Satiagraha, mostram que havia razão para a instauração do inquérito.