Título: PF: depoimentos de agentes têm contradições
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 12/11/2008, O País, p. 8

CRISE INSTITUCIONAL: Declarações de arapongas divergem até em relação ao material usado para investigar Dantas

Relatório sobre vazamento de informações na Operação Satiagraha tem capítulo intitulado "Das mentiras constatadas"

Soraya Aggege

SÃO PAULO. A Polícia Federal já constatou diversas contradições nos depoimentos de funcionários da Abin no inquérito que apura o vazamento de informações na Operação Satiagraha, apelidado "Operação G". "Das mentiras constatadas" é o título do capítulo do relatório que a PF entregou à Justiça semana passada, mostrando incoerências entre arapongas e com relação aos agentes da PF investigados com o delegado Protógenes Queiroz, afastado da Satiagraha.

Enquanto o diretor do Departamento de Contra-Inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato Pinto, declarou que não houve designação de equipe específica, mas "apenas um apoio à PF", e que todos os pedidos foram formais, sem relatórios, o coordenador de Operações de Contra-Espionagem da agência, José Ribamar Reis Guimarães, declarou que houve mobilização de dezenas de agentes, de vários estados.

Guimarães disse que foram selecionados oito servidores para São Paulo, para "trabalhar na rua", em levantamentos de campo. Depois, citou cerca de 30 agentes que teriam atuado em São Paulo. Ele teria levado uma planilha com a designação dos agentes para a PF. Ainda segundo Guimarães, também foi mobilizado o escritório da Abin no Rio e designados seis agentes do Ceará, três de Brasília, seis de Minas, quatro de Goiás, um do Pará, um da Bahia, além de dois de São Paulo enviados ao Rio.

Já o chefe de Operações Superintendência estadual da Abin no Rio, Vicente Ernani Filho, afirmou à PF que houve designação de equipes exclusivas para a PF, e que os agentes receberam 13 telefones Nextel e uma máquina fotográfica da PF. Outros agentes ouvidos descrevem o recebimento de mais equipamentos.

Protógenes disse que caso era de espionagem internacional

O diretor de Operações de Inteligência da Abin, Thelio Braun D"Azevedo, disse que recebeu determinação superior para indicar quatro agentes que iriam cumprir uma missão especial. Teriam sido escolhidos "Nagib, Lúcio, Luiz e Márcio Seltz". D"Azevedo disse que não sabia que os escolhidos trabalhariam para a PF. Um dos designados, Lúcio, procurou-o 20 dias depois, dizendo-se preocupado com a missão e pediu para ser desligado, o que aconteceu.

Já o oficial de inteligência da Abin Lúcio Fábio Godoy de Sá disse que Protógenes explicou que o caso envolvia "espionagem internacional", daí a participação da Abin. Ele disse à PF ter ouvido do delegado que o filho do presidente Lula teria sido cooptado por essa organização. E ainda que o espião israelense Avene Shemesh teria sido contratado pela organização, o que aumentaria a necessidade de a Abin entrar no caso.