Título: Violência põe ajuda em risco
Autor: Perlez, Jane ; Shah, Pir Zubair
Fonte: O Globo, 12/11/2008, O Mundo, p. 27

Cruz Vermelha alerta que situação é dramática.

CABUL. O avanço da insurgência e a violência fora de controle estão tornando dramático o trabalho de ajuda humanitária no Afeganistão, informou ontem o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Segundo a organização, mais de 4 mil pessoas, entre elas 3 mil civis e 30 voluntários ligados à ONGs humanitárias, foram mortos somente este ano durante combates entre tropas estrangeiras e rebeldes talibãs.

¿A situação tem piorado há um ano e meio e agora está fora de controle, o que compromete o trabalho de ajuda. O avanço dos talibãs está aumentando dramaticamente a violência e as condições sociais estão cada vez mais precárias¿, disse em nota a Cruz Vermelha Internacional.

Caminhões do Crescente Vermelho (comitê humanitário regional) que levam toneladas de alimentos para as regiões de conflito, especialmente no norte do país, estão sendo atacados por rebeldes, que roubam os mantimentos para abastecer as milícias. Explosões de bombas ao longo das rodovias e os ataques suicidas, segundo a ONG, ocorrem regularmente.

Além da violência, pelo menos 280 mil pessoas ainda sofrem os efeitos da pior seca no país em uma década. Sem comida nem dinheiro para comprar sementes, milhares de pequenos agricultores estão deixando suas casas em busca de trabalho. Isso os torna alvo fácil dos rebeldes talibãs, que os usam como escudos humanos ou os recrutam para integrar a milícia.

Arrasado desde a guerra contra o regime Talibã iniciada em 2001 pelos EUA, o Afeganistão não consegue dar condições mínimas de sobrevivência para a maior parte da população. Numerosas unidades de saúde foram destruídas durante os ataques e ainda permanecem em ruínas. Poucos lugares possuem rede de água e esgoto, e a infra-estrutura para o escoamento de alimentos, especialmente as estradas, é precária. O país enfrenta ainda uma alta generalizada do preço dos alimentos, o que fez o governo pedir ajuda internacional para combater a fome.