Título: Nova estratégia para Afeganistão
Autor: Perlez, Jane ; Shah, Pir Zubair
Fonte: O Globo, 12/11/2008, O Mundo, p. 27

Obama apoiaria contato entre Cabul e rebeldes e buscaria auxílio do Irã.

WASHINGTON. O futuro governo Obama planeja explorar uma estratégia mais regional na guerra no Afeganistão ¿ incluindo possíveis conversas com o Irã ¿ e olha com simpatia o nascente diálogo entre o governo afegão e ¿elementos reconciliáveis¿ do Talibã, de acordo com assessores para segurança nacional do presidente eleito.

Barack Obama também pretende renovar o compromisso de perseguir Osama bin Laden ¿ uma prioridade que acredita que o presidente George W. Bush menosprezou após anos de tentativas fracassadas de capturar o líder da al-Qaeda. Criticando Bush durante a campanha, acusando-o de se concentrar no Iraque às custas do Afeganistão, Obama também pretende enviar mais tropas a Cabul.

Essa abordagem deve ser bem recebida por um certo número de funcionários do governo que defendem um curso mais agressivo e criativo para o conflito em deterioração. Os ataques talibãs e as mortes entre soldados americanos são os mais altos desde que a guerra começou em 2001.

Alguns comandantes militares olham com cautela para o compromisso de Obama de ordenar a retirada das tropas do Iraque em 16 meses ¿ uma ordem que conselheiros dizem que ele deverá dar já nas primeiras semanas no cargo. O almirante Michael Mullen, chefe de Estado-Maior Conjunto, chamou tal cronograma de perigoso. Outros desconfiam do futuro governo, que vêem como despreparado para as guerras de contra-insurgência que vêm consumido suas Forças Armadas nos últimos sete anos.

Mas conversas com assessores de Obama e estrategistas militares revelam uma noção de que a campanha no Afeganistão no governo Bush tem sido prejudicada por restrições ideológicas e diplomáticas e por um compromisso pouco realista com o objetivo de criar uma democracia moderna ¿ mais do que uma nação estável que rejeite a al-Qaeda e o extremismo islâmico e que não ameace os interesses americanos.

Durante a campanha, Obama disse que iria explorar negociações com países como Irã e Síria. O Irã, na fronteira oeste afegã, tem desempenhado um papel alternado ao longo dos anos, às vezes cooperando indiretamente com objetivos dos EUA, às vezes ajudando extremistas. O governo Bush manteve Teerã ao alcance da mão, mas ¿ao olhar para o futuro, seria produtivo ter um interlocutor¿, disse um militar. Os iranianos ¿não querem extremistas sunitas no comando do Afeganistão assim como nós¿, disse ele.

Conselheiros também dizem que Obama está aberto a apoiar discussões entre o governo afegão e elementos reconciliáveis do Talibã, uma iniciativa que o Departamento de Estado tem desprezado.