Título: Inimigo enraizado
Autor: Perlez, Jane ; Shah, Pir Zubair
Fonte: O Globo, 12/11/2008, O Mundo, p. 27

Meses de confronto e túneis de quase 1 Km mostram que Paquistão subestimou o Talibã.

Quando o Exército do Paquistão retomou essa área estratégica do Talibã no mês passado, descobriu o quão profundamente os militantes islâmicos tinham penetrado ¿ e literalmente se enraizado ¿ no território paquistanês. Por trás de estruturas de paredes de terra batida em Bajaur, um corredor vital para o Afeganistão através do cinturão tribal do Paquistão, os insurgentes talibãs criaram uma rede de túneis para armazenar armas e se movimentarem sem serem detectados. Alguns túneis se estendem por quase um quilômetro e são equipados com sistema de ventilação, permitindo aos milicianos uma longa permanência.

¿ Não eram para batalhas comuns ¿ disse o general Tariq Khan, comandante do Corpo da Fronteira do Paquistão, que liderou a campanha contra o Talibã na área.

Após três meses, o Exército paquistanês controla uma pequena fatia de Bajaur. Mas o que era inicialmente mostrado como uma ação paramilitar para restaurar a ordem na região, tornou-se a mais prolongada campanha do Exército contra o Talibã e seus aliados da al-Qaeda desde que o país se aliou aos Estados Unidos em 2001.

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, prometeu fazer dos conflitos no Afeganistão e no Paquistão uma prioridade. A campanha de Bajaur serve como alerta do imenso desafio que mesmo um esforço de alta escala militar enfrenta ao tentar varrer o Talibã e al-Qaeda do norte paquistanês.

Homem-bomba mata três pessoas

Sob forte pressão dos EUA, o governo paquistanês promete desalojar os combatentes talibãs e da al-Qaeda que se refugiam em áreas tribais. Mas uma visita de dois dias a Loe Sam e Khar, a capital de Bajaur, sugere que o Paquistão subestimou o oponente. Milicianos permanecem entrincheirados em várias áreas. Mesmo ao longo da estrada para Loe Sam, que o Exército limpou, atiradores continuam a disparar.

Após o Corpo da Fronteira fracassar em tirar o Talibã de Loe Sam em agosto, o Exército enviou 2.400 soldados em setembro para deter a força talibã que vinha atraindo militantes da região tribal, assim como um fluxo de combatentes do Afeganistão.

Para salvar Loe Sam, o Exército o destruiu. Lojas e casas de 7 mil pessoas que viviam ali são hoje uma pilha de escombros. Conforme os helicópteros e a artilharia disparavam contra abrigos de milicianos, 200 mil pessoas fugiram para acampamentos e casas de parentes no Paquistão ou cruzaram a fronteira afegã. O bombardeio aéreo era necessário, dizem militares, para erradicar a bem armada força talibã.

O Exército e o Corpo da Fronteira, a força paramilitar responsável pela segurança em áreas tribais, dizem que 83 soldados morreram e que 300 ficaram feridos desde agosto.

Bajaur não é um troféu qualquer. Os talibãs tomaram a região devido a sua localização estratégica, ao lado da província de Kunar, no Afeganistão, onde estão as forças da coalizão. A área serve de entrada para Kunar para talibãs, particularmente do Waziristão, para atacar as tropas americanas. Bajaur também fornece acesso ao sul de Peshawar, capital da Província da Fronteira Noroeste.

Foi em Peshawar, diante do Complexo Desportivo, sede dos Jogos Interprovinciais, que ontem um homem-bomba detonou seus explosivos, matando três pessoas. O ataque ocorreu pouco depois da cerimônia de encerramento dos jogos e deixou uma dezena de feridos.

No Passo de Khyber, nas montanhas, 60 homens encapuzados bloquearam a passagem para atacar um comboio de caminhões que levava equipamentos e suprimentos para as forças americanas no Afeganistão. Os talibãs levaram 13 caminhões e seus motoristas sem disparar um tiro. Entre a carga estavam dois Humvees.

Com agências internacionais