Título: MEC estuda tornar Enade obrigatório para todos
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 10/11/2008, O País, p. 4

Proposta é acabar com atual sistema de amostragem; UNE mantém boicote ao exame que sucedeu o Provão.

BRASÍLIA. O Ministério da Educação estuda acabar com o sistema de amostragem e tornar a participação no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) obrigatória para todos os calouros e formandos dos cursos superiores avaliados. Ontem, na quinta edição do Enade, a amostra sorteada para fazer a prova correspondia a 56% do total de 824 mil alunos aptos. Cerca de 500 mil estudantes fizeram o exame. A União Nacional dos Estudantes (UNE) defendeu o boicote ao teste, por entender que o Enade tem peso excessivo na avaliação do ensino superior.

Com o sistema de amostra, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo exame, sorteia os participantes. O número de alunos selecionados pelo Inep para a prova de ontem era de 564 mil - o balanço de participação só será divulgado hoje. Destes, apenas 461 mil correspondem à amostra dos cursos avaliados neste ano. Os demais são voluntários ou alunos que deixaram de fazer o teste em anos anteriores e que, por isso, não receberam o diploma.

Em Brasília, alunos abandonam locais de prova

Em Brasília, alunos começaram a deixar um dos locais de prova dez minutos após o início do exame, cuja duração era de até quatro horas, segundo a Agência Brasil.

O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, disse que menos de 3% dos universitários boicotaram o teste no ano passado, quando a UNE também pregou o boicote. Ele disse que a entidade cobra a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), que prevê inspeções in loco e auto-avaliações para compor o indicador final dos cursos:

- Respeito a posição da UNE, mas não concordo. E acho que o boicote não ajuda a implantação do Sinaes.

O sistema de amostragem foi adotado em 2004, na primeira edição do Enade, para reduzir custos. Seu antecessor, o Provão, avaliava todos os formandos, mas nenhum calouro. Ao submeter ao teste iniciantes e concluintes, o Enade tenta medir a contribuição específica dos cursos, independentemente do nível de conhecimento dos alunos antes do vestibular.

Segundo Fernandes, o tamanho da amostra é confiável, mas gera desconfianças entre as instituições de ensino e alimenta reclamações entre alunos que se sentem prejudicados por serem obrigados a participar, enquanto colegas são dispensados. A USP e a Unicamp nunca participaram do Enade. Elas criticam o sistema de amostragem.

Reitor da UFRJ acha Enade mais justo do que Provão

No Rio, o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aloísio Teixeira, disse que o Enade é importante para a avaliação do ensino superior. Para ele, os critérios adotados atualmente são mais justos com as universidades que o antigo Provão.

Teixeira, no entanto, criticou a classificação das instituições de ensino de acordo com o resultado no exame. Para ele, esse ranking cria um ambiente de competição desfavorável "perversa e predatória" ao meio acadêmico.