Título: Nações do G-20 querem profunda reforma no FMI e no Banco Mundial
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 10/11/2008, Economia, p. 17

Grupo pede maior participação de emergentes nos dois organismos.

SÃO PAULO. Em documento divulgado ontem, no fim da reunião do G-20, os países membros do grupo defenderam amplas reformas em órgãos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), de modo a garantir uma maior representatividade, que reflita o papel que grandes países emergentes desempenham hoje na economia mundial. Em entrevista, a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, por exemplo, chegou a afirmar que é hora de o FMI mudar "sua abordagem imperialista".

"Concordamos que as instituições de Bretton Woods (referência à reunião em que foram criados o FMI e o Bird) devem ser amplamente reformuladas para que elas possam, adequadamente, refletir os diferentes pesos das economias no mundo e ser mais responsáveis nos desafios futuros. Economias emergentes e em desenvolvimento devem ter mais voz e representatividade nestas instituições", disse o documento.

Em seu discurso no encerramento do encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que o G-20 teria uma representatividade mais adequada para liderar e coordenar eventuais ações contra a crise.

- O G-20 representa melhor o quadro de países mais envolvidos com a economia internacional e pode enfrentar melhor o atual cenário - disse.

Indagado sobre a afirmação de Mantega, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, admitiu a relevância do G-20. Mas afirmou que a representatividade do grupo é restrita.

- O G-20 é muito importante, reúne uma grande parte do PIB mundial. Porém, são apenas 20 países. E o FMI representa 185. E há muitos outros com importância econômica no mundo que não estão representados no G-20. Então, eu penso que os dois organismos são importantes - disse ele, que, no entanto, defendeu mais voz aos emergentes. - O Guido (Mantega) está certo em cobrar mais voz, pois, quando você olha para as perspectivas do próximo ano, vê que todo o crescimento virá dos países emergentes.

Sobre as críticas feitas à forma de o Fundo atuar e às reclamações dos emergentes que não se sentem representados na instituição, Strauss-Kahn disse tratar-se de uma "visão tradicional":

- Cada um (dos membros do Fundo) pode ter esse tipo de reação, mas a realidade é que não há outro lugar com a universalidade de nossos membros, com todo mundo ao redor da mesa podendo ter voz.

Debate sobre nova ordem financeira foi adiado

A ministra francesa, no entanto, defendeu mudanças profundas na instituição.

- Acredito que a velha escola do FMI deixou algumas cicatrizes - disse ela. - Alguns Estados, um ou dois que vi ontem (sábado, na reunião do G-20, em São Paulo) em reuniões bilaterais, lembram que o FMI pode usar essa bastante ortodoxa e imperialista abordagem da análise econômica e de ocasionais exigências sobre os países.

Para o subsecretário para Assuntos Internacionais do Tesouro dos EUA, David McCormick, não há necessidade de se criar novas instituições para regular e fiscalizar o mercado financeiro mundial. Segundo ele, os organismos existentes dão conta do trabalho, embora precisem ser fortalecidos. McCormick disse ainda que seu país é aliado do G-20 e está aberto a negociar as reformas necessárias.

- Isso não significa um novo Bretton Woods, mas é preciso fortalecer as instituições já existentes, como o FMI e o Banco Mundial - disse ele.

A discussão sobre uma nova regulamentação para o sistema financeiro internacional, aliás, que gerou grande expectativa antes do encontro, acabou ficando em segundo plano. Alguns países, como a Austrália apresentaram propostas. Mas pouco se avançou e a questão será discutida na reunião dos chefes de estado do G-20, no próximo fim de semana, em Washington.

- Não chegamos a definir medidas que devem ser tomadas no âmbito da regulação e da fiscalização dos mercados financeiros - disse Mantega, admitindo que, pela complexidade das mudanças em discussão, nada de concreto deve sair da reunião nos Estados Unidos.

CHINA LANÇA PACOTE DE US$586 BILHÕES, na página 20

(*) Com agências internacionais