Título: China lança pacote de quase US$600 bilhões
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 10/11/2008, Economia, p. 20

Governo tenta conter crise investindo em infra-estrutura e bem-estar social. Medida é saudada por G-20 e FMI.

PEQUIM e SÃO PAULO. Num comunicado breve publicado em sua página na internet e reproduzido pela agência de notícias estatal Xinhua, o Conselho de Estado da China anunciou ontem um pacote de estímulo ao setor produtivo que chegará a quatro trilhões de yuans - US$586 bilhões - em 2010, focado em investimentos públicos, políticas de estímulo fiscal, além do relaxamento da política monetária (com prováveis novas reduções nas taxas de juros), para garantir um crescimento da economia chinesa entre 8% e 9% a partir do ano que vem.

O pacote inclui dez programas com alvos específicos, como projetos de infra-estrutura, microcrédito e crédito para pequenas e médias empresas, construção de casas para baixa renda, infra-estrutura rural, logística, estímulo à inovação tecnológica, à adoção de tecnologias de geração de energia limpa e a aceleração na reconstrução das áreas destruídas pelo terremoto na província de Sichuan.

Mas a medida mais esperada pelos chineses será mesmo a redução das alíquotas do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que incide sobre tudo que é fabricado e comercializado no país. A medida ainda não foi explicada, mas estima-se que, com a redução do imposto em determinados setores, a economia só para as empresas seja de 120 milhões de yuans por ano (US$17,5 milhões).

- A melhor maneira que a China possui de ajudar nesta crise internacional é manter o seu nível de crescimento - afirmou o presidente do Banco Popular da China, o BC do país, Zhou Xiaochuan, que prevê que as medidas ajudarão a China a crescer entre 8% e 9% a partir de 2009.

Operações de fusões e aquisições terão mais crédito

Foi suspenso o teto para empréstimos dos bancos estatais para determinados projetos, como infra-estrutura rural, abertura de empresas em setores de tecnologia, fusões e aquisições e compra de equipamentos de proteção ao meio-ambiente. Os integrantes do Conselho de Estado da China, liderado pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, esteve reunido durante todo o fim de semana elaborando o pacote.

Em São Paulo para a reunião do G-20 (grupo que reúne países ricos e emergentes), o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou que a situação fiscal da China é forte para sustentar o crescimento do país e, desta forma, ajudar o planeta a sair da espiral de crise que vem empurrando para a recessão alguns países da Europa e os EUA. Zoellick afirmou que os investimentos em infra-estrutura feitos pela China nos últimos anos foram uma decisão "muito sábia" e agora estes investimentos ajudarão o país a responder mais rapidamente ao pacote de estímulo anunciado em Pequim.

Banco central de Taiwan corta juros novamente

Também presente ao fórum do G-20, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que o pacote chinês é "uma boa notícia".

- O FMI vinha argumentando há algum tempo que a China deveria deslocar o eixo de sua economia de um crescimento baseado em exportações para um baseado no crescimento interno. Estou muito feliz por ver que essa decisão foi tomada - disse ele, acrescentando que o pacote beneficiará não só a China, mas a economia mundial também.

David McCormick, vice-secretário do Tesouro dos EUA para Assuntos Internacionais, também festejou o pacote, afirmando em São Paulo que ajudará a Ásia a sair da crise financeira.

Na esteira de ações contra a crise, o banco central de Taiwan cortou ontem, sem aviso prévio, sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 2,75% ao ano. O objetivo é estimular a economia. Trata-se da quarta redução em um mês.

(*) Com agências internacionais