Título: Lula: Já sabemos que o G-8 não tem mais razão de ser
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/11/2008, Economia, p. 28

Presidente afirma que, depois da crise financeira, países ricos tomaram `chá de humildade¿

Marilia Martins

WASHINGTON. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera que o fortalecimento do G-20 como fórum internacional privilegiado, ocupando o lugar do G-8, já é um primeiro resultado da reunião de cúpula. Lula sentou-se ao lado do presidente George Bush, elogiou a iniciativa do anfitrião em convocar o encontro, mas foi o primeiro a criticá-lo, acusando-o de vacilar na tomada de medidas ousadas. Lula participou da cúpula acompanhado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, enquanto o chanceler Celso Amorim mantinha encontro reservado com a representante de Comércio dos EUA, Susan Schwab, para tentar avançar nas negociações da Rodada de Doha. Amorim reuniu-se ainda com Madeleine Allbright, ex-ministra do Exterior do governo Bill Clinton, designada por Barack Obama como observadora no encontro.

¿ Já sabemos que o G-8 não tem mais razão de ser. Ninguém pode ignorar economias emergentes no mundo globalizado de hoje ¿ afirmou Lula, declarando-se contente com a confirmação do G-20 como um fórum global. ¿ Agora eu vejo que depois dessa crise todo mundo tomou um chá de humildade.

O presidente brasileiro disse que o G-8 vai continuar apenas ¿como um clube de amigos¿ e que o mundo assistiu a um momento histórico ¿porque há seis meses ninguém poderia imaginar que chegaríamos a um consenso para cuidar coletivamente da economia mundial¿. Ele também criticou os elevados ganhos dos executivos de fundos de investimento com a especulação:

¿ Eu disse ao Bush que, quando eu era metalúrgico, tinha de trabalhar 40 ou 60 horas extras por mês para comprar uma TV. Eu tinha de me matar de trabalhar e não é justo que alguém fique bilionário sem produzir um único papel, um único emprego, um só salário.

Lula reafirmou que serão tomadas todas as medidas para garantir a expansão da economia brasileira em 2009, ressaltando que o governo vai ¿criar as condições para irrigar o nosso sistema financeiro¿, e prometeu manter todos os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas admitiu estar preocupado com um possível aprofundamento da crise e alertou que a desaceleração econômica estava transformando-se perigosamente em recessão.

Mantega saiu do encontro otimista:

¿ Conseguimos estabelecer o G-20 como fórum privilegiado da crise. Vamos retomar a Rodada de Doha e chegar a um acordo comercial até o fim do ano. Esta é uma oportunidade histórica que permite uma resposta diferente da dos anos 30, e todos concordaram que é a única forma de impedir o alastramento da crise ¿ disse o ministro.