Título: G-20 vai adotar plano conjunto contra a crise
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/11/2008, Economia, p. 28

Documento inclui 50 propostas e fala em `medidas fiscais¿. Não há acordo sobre nova agência reguladora

José Meirelles Passos

WASHINGTON. O G-20, formado pelos países ricos e os emergentes mais importantes, decidiu ontem adotar um plano de ação comum para aliviar os impactos da atual crise financeira. O plano consta de 50 medidas, que terão como base um conjunto de cinco princípios estabelecendo a criação de uma estrutura global mais transparente, que leve a controle mais rigoroso do sistema financeiro internacional.

Os ministros da Fazenda de Brasil, Reino Unido e Coréia do Sul foram encarregados de coordenar a implantação das novas medidas. Algumas ações ¿ como a de fazer com que bancos e financeiras desenvolvam processos que indiquem se estão acumulando riscos em demasia (esse foi o estopim da crise atual) ¿ deverão ser tomadas imediatamente. Elas devem ser complementadas até 31 de março. Outras, como a determinação de que cada país reveja o seu sistema regulatório de forma que seja compatível com ¿um sistema financeiro cada dia mais globalizado e moderno¿, serão providenciadas a médio prazo. O documento do G-20 também fala em ¿medidas fiscais para estimular a demanda interna¿, o que poderia significar redução de juros e gastos dos governos.

¿ A reunião foi um êxito. A sua principal realização foi a de já estabelecer algumas ações ¿ disse o presidente George W. Bush ao final da reunião, alusão ao fato de que não se esperavam muitas medidas práticas, devido ao receio de que alguma não viesse a ser ratificada pelo presidente eleito, Barack Obama, que não participou do evento.

Obama estava informado de tudo, diz Bush

Na reunião de ontem, Brasil, China, Índia e outros emergentes participaram com voz ativa. Segundo a chanceler alemã, Angela Merkel, a nova configuração funcionou perfeitamente:

¿ Trata-se de um novo começo que acontece durante uma situação difícil, mas nos dá a esperança de que as políticas (dos dois grupos) podem funcionar em conjunto.

O motivo para a presença efetiva dos emergentes nos debates é que eles são hoje responsáveis por 75% da economia global. E conforme lembrou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, graças a eles o crescimento mundial está sendo positivo este ano e assim permanecerá em 2009 ¿ apesar de recessão nos EUA, no Japão e na Europa.

Para descartar dúvidas sobre uma eventual divergência com seu sucessor, Bush esclareceu que a equipe de Obama foi informada de todos os pontos do acordo. Não se incluiu, por exemplo, o compromisso de se criar uma regulação global padronizada e uma agência internacional com o poder de monitorar as atividades do sistema financeiro internacional, de forma a tornar obrigatório o cumprimento das regras.

Ambas as propostas não contam com o apoio de EUA e Reino Unido. Por esse motivo, o acerto foi que, pelo menos por enquanto, cada país deve cuidar de sua própria regulação. No máximo, acertaram os países, haverá uma ampla coordenação entre eles, que, na prática, acabe funcionando como uma vigilância mútua.

Uma das principais mudanças a médio prazo será a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), para que se tornem mais eficientes em sua missão e que dêem mais representação aos países emergentes e em desenvolvimento. A presença desses países na reunião serviu para marcar uma clara mudança em relação a encontros anteriores.

Os mandatários do G-20 voltarão a se reunir no próximo dia 30 de abril, num país ainda não determinado, para rever a implementação dos princípios e decisões com as quais concordaram ontem.

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