Título: PF: Protógenes usou 82 arapongas
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 11/11/2008, O País, p. 3

Agentes da Abin investigaram dezenas de pessoas de forma clandestina.

SÃO PAULO. Pelo menos 82 agentes da Abin filmaram, fotografaram e interceptaram telefonemas de jornalistas e de dezenas de outras pessoas de maneira clandestina, apontam as investigações da Polícia Federal, que iniciou as análises do material apreendido na semana passada na agência de informações do governo. A atividade dos arapongas não foi autorizada pela Justiça e teria sido comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, na Operação Satiagraha, que apura crimes do banqueiro Daniel Dantas, alvo inicial da operação.

Segundo O GLOBO apurou, no material apreendido constam informações de que, além dos 72 agentes descobertos inicialmente pela PF, pelo menos mais dez foram identificados trabalhando direta ou indiretamente no caso. Chamaram a atenção das autoridades vídeos com imagens de monitoramentos ambientais, todas clandestinas.

O inquérito que apura o caso, conhecido como Operação G, não foi concluído. A expectativa é de que ele seja encerrado até o final do ano. A PF ainda fechará os laudos sobre o material apreendido, como discos rígidos de computadores, filmes e relatórios. E deverão ser apresentados novos pedidos à Justiça Federal nos próximos dias. Uma das hipóteses é de que o delegado que preside o inquérito, Amaro Vieira Ferreira, peça a quebra de sigilo telefônico de 12 aparelhos Nextel que teriam sido usados tanto por agentes da PF quanto da Abin.

A Operação G apura o vazamento de informações da Satiagraha em três momentos: para o jornal "Folha de S.Paulo", que em abril divulgou informações sobre a Satigraha antes que a PF fizesse as prisões, em 8 de julho; o vazamento para a TV Globo, que fez imagens exclusivas de prisões no dia da operação; e o vazamento de informações para servidores da Abin.

Dois oficiais da Abin teriam vazado informações para jornalista

Além de estar convencido de que Protógenes cometeu crime de quebra de sigilo funcional ao vazar informações à imprensa, o delegado Amaro diz, em seu relatório, suspeitar que, em abril, dois agentes da Abin teriam vazado dados confidenciais da operação à jornalista Andréa Michael, da "Folha de S. Paulo".

Segundo o delegado, os oficiais de inteligência da Abin Luiz Eduardo Melo e Thélio Braun D´Azevedo estão na "condição de supostos vazadores de informações sobre o andamento da operação à jornalista". Ela teria tido conversas suas gravadas clandestinamente até dentro de sua própria casa, além de ter sido filmada em vários locais, inclusive restaurantes, por agentes da Abin.

No inquérito, a PF frisa que Protógenes suspeitava que quem vazou informações importantes para a jornalista foram Daniel Lorenz de Azevedo, diretor de Inteligência Policial da PF, e o próprio diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa.

Ouvido no inquérito, o agente da Abin Lúcio Fábio Godoy de Sá diz que, logo depois da "Folha" ter publicado uma reportagem no dia 26 de abril com detalhes da operação contra Dantas, Protógenes reuniu a equipe "dando a entender que os vazadores da operação para a jornalista seriam Lorenz e Luiz Fernando".

Ele afirma, contudo, que os sargentos Idalberto Matias de Araujo e Jairo Martins de Souza, a serviço da Abin, estão "na condição de possíveis autores da gravação, em tese, clandestina" dos passos da jornalista. Isso também configura crime (obtenção de prova ilegal), mas o delegado ainda não teria decidido indiciá-los. Idalberto é sargento da Aeronáutica e Jairo é sargento da PM do Distrito Federal.

Foi por isso que o delegado Amaro pediu ao juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal de São Paulo, buscas na casa dos dois policiais. A PF recolheu material para saber se eles estavam de posse dessas gravações ilegais. O material apreendido na semana passada ainda está sendo analisado pela perícia da PF, com acompanhamento da Justiça.

Foram feitas buscas nas casas de Luiz Eduardo Melo e Thélio Braun D"Azevedo, da Abin, suspeitos de terem vazado informações para a "Folha". A PF suspeita que Protógenes "guardaria ilegalmente provas e informações que não foram levadas aos autos" contra Daniel Dantas.