Título: Retirada total até 2011
Autor:
Fonte: O Globo, 17/11/2008, O Mundo, p. 21

Gabinete iraquiano aprova acordo para saída de tropas dos EUA. Parlamento vota dia 24

BAGDÁ

Após quase um ano de intensas negociações e protestos de opositores xiitas, o Gabinete iraquiano aprovou ontem um pacto estabelecendo 31 de dezembro de 2011 como data final para a retirada das forças de ocupação dos EUA. O acordo ainda precisa, porém, ser aprovado pelo Parlamento, mas o chanceler Hoshiyar Zebari, espera que isso aconteça em breve. O voto está marcado para o dia 24. Em seguida, a medida vai para a aprovação do conselho presidencial. A Casa Branca ¿ que vê no pacto uma garantia de que a retirada do país ocorrerá de forma gradual ¿ comemorou a decisão, pois no fim do ano termina o mandato da ONU para a presença das tropas estrangeiras no país, invadido em 2003.

O acordo foi aprovado por 27 dos 28 membros do Conselho de Ministros presentes, um sinal de que o premier Nouri al-Maliki conta com apoio dos vários partidos da sua coalizão. O apoio do aiatolá Ali al-Sistani, o mais importante clérigo xiita do país, também deverá facilitar a aprovação pelo Legislativo.

¿ A expressiva votação mostra a firme decisão do governo e seu compromisso com o acordo. Achamos que o mesmo deve acontecer no Parlamento ¿ disse Zebari.

Washington cedeu em pontos do texto

O texto do acordo, com 31 artigos, prevê que as tropas americanas deixem as ruas das cidades e vilas iraquianas em meados de 2009 e se retirem definitivamente do país até 31 de dezembro de 2011. Neste período, as forças de segurança iraquianas retomarão gradualmente o controle do país, que ainda enfrenta ataques de insurgentes e atentados quase diários.

Com a redução na violência nos últimos 12 meses, o governo iraquiano vem ganhando confiança crescente em sua capacidade de manter a ordem. Forças iraquianas agora estão no comando de 13 das 18 províncias do país, e foram elas que lideraram a repressão às milícias xiitas este ano.

Mas autoridades iraquianas reconhecem que ainda precisam do apoio militar dos EUA contra militantes sunitas em Bagdá e em quatro províncias do norte do país, além de ajuda logística. Os EUA têm atualmente cerca de 150 mil soldados no Iraque.

As negociações entre Bagdá e Washington para a finalização de um acordo foram duras e se chegou a pensar que ele não sairia do papel. O Gabinete iraquiano hesitou em aprovar um rascunho do pacto no mês passado, quando enviou pedidos de emendas à Casa Branca. Washington respondeu este mês com uma oferta final, retirando pontos do texto em que sugeria que tropas poderiam permanecer após a data de retirada e se comprometendo a não atacar países vizinhos a partir do Iraque.

¿ Não é uma solução perfeita nem para o lado iraquiano nem para o americano, mas um procedimento forçado pelas circunstâncias e pela necessidade ¿ disse o porta-voz do governo iraquiano, Ali al-Dabbagh.

Os líderes locais consideram a data apontada para a retirada como uma vitória diplomática de Bagdá, pois o governo de George W. Bush sempre se opôs a marcar um calendário de saída das tropas. No entanto, analistas dizem que o prazo mais dilatado também favorece Bush, que estaria dificultando eventuais iniciativas do presidente eleito Barack Obama de acelerar a retirada. Na campanha, Obama disse que queria retirar as tropas em 16 meses. Segundo o governo iraquiano, o acordo pode ser suspenso se Bagdá acreditar ter condições de assumir a segurança do país antes de 2011.