Título: Para Nobel, BCs esgotaram ações e tempestade está apenas começando
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 11/11/2008, Economia, p. 22

Segundo Stiglitz, objetivo é conter desastre, mas freio global pode durar 18 meses

Lino Rodrigues

SÃO PAULO. O economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel em 2001, disse ontem que os bancos centrais do mundo já esgotaram a capacidade de restaurar as economias e conter a crise financeira internacional. Segundo ele, as ações recentes de política monetária dificilmente conseguirão fazer com que os volumes de empréstimos retornem aos mesmos níveis que existiam antes da crise nos mercados financeiros.

- O que a política monetária está tentando fazer é evitar o desastre e não uma ressurreição dos níveis de empréstimos - disse Stiglitz, ontem, logo depois de participar em São Paulo da abertura da oitava edição da ExpoManagement, evento que reúne executivos da América Latina.

Professor de economia da Columbia University, em Nova York, Stiglitz mostrou-se cético em relação ao futuro da economia americana e mundial. Segundo ele, os números mostram que os empregos perdidos nos Estados Unidos já somam um milhão de postos, e as vendas no varejo estão em queda acentuada. Mesmo que todas as medidas para debelar a crise sejam adotadas corretamente, ele estima que a desaceleração da economia global vai durar de 12 a 18 meses.

- O futuro é sombrio. Não estou otimista de que tudo será feito corretamente. Até aqui tem sido um desastre e a tempestade está apenas começando - disse ele.

"EUA têm vivido além de seus meios há muito tempo"

Apesar dos estragos na economia, Stiglitz disse que considera a crise oportuna para que os países emergentes apareçam, ocupem os espaços e mostrem as suas idéias e proposições, e assim tenham mais voz e sejam mais ouvidos pelos "governos globais". Ele lembrou, no entanto, que não será tarefa fácil para o Brasil e para os outros países em desenvolvimento obter o reconhecimento dos governos desenvolvidos.

Ex-economista-chefe do Banco Mundial e autor de vários livros sobre globalização e política monetária, Stiglitz fez duras críticas ao governo de Bush que "nunca se preocupou com as pessoas" e ao ex-presidente do Fed (o banco central americano), Alan Greenspan, o "grande responsável" pela crise financeira global.

- Os Estados Unidos têm vivido além de seus meios há muito tempo. Agora, diante do pessimismo, o crédito será arrochado. As famílias começarão a poupar mais e consumir menos, o que pode ter conseqüências dramáticas - prevê.

Questionado sobre o efeito da eleição de Barack Obama sobre a crise, Stiglitz disse que, mesmo que ele faça tudo que é preciso, a retomada da economia americana não será rápida. Até porque, segundo ele, a probabilidade de que Obama adote as medidas corretas é pequena.

Stiglitz disse ainda que vê com simpatia a criação de um novo órgão regulador do sistema financeiro internacional, e que apóia a maior participação dos países emergentes nos órgãos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

- Estamos vendo mudanças no FMI, e o Brasil tem um papel importante nesse processo. A desaceleração global vai estimular o debate econômico em âmbito mundial, o que é um bom sinal.