Título: Meirelles diz que país não deve ampliar gastos
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 11/11/2008, Economia, p. 22

Após Mantega admitir política fiscal mais flexível, presidente do BC diz que PAC já é remédio suficiente anticrise

Patrícia Duarte

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que é contra a adoção pelo país de uma política de ampliação nos gastos públicos, neste momento, como forma de garantir maior crescimento econômico em tempos de crise internacional. Para ele, o país já tem um bom projeto de investimentos, referindo-se ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê desembolsos de cerca de R$500 bilhões, e que o mercado consumidor interno continua forte. Ou seja, não precisa de mais incentivos.

- O que o Brasil está enfrentando é uma questão de liquidez, e isso está sendo enfrentado com rigor - disse Meirelles, que participou ontem do encontro bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), realizado em São Paulo com cerca de 40 banqueiros centrais de todo o mundo. - Além do mais, o Brasil já tem um plano de investimento, que é o PAC

Flexibilizar a política fiscal do país levaria a um maior gasto do governo que, conseqüentemente, puxaria a demanda. No fim de semana, na reunião do G-20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que as metas fiscais do país estavam mantidas, mas não descartava a possibilidade de o governo fazer mais desembolsos para garantir uma expansão maior do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços do país) em 2009. No mercado, já há projeções de crescimento de cerca de 2% para 2009, menos da metade dos 5,25% esperados para este ano.

Presidente do BC diz que consumo interno está forte

Ao BC não interessa que o governo estimule o consumo por causa da inflação, que continua pressionada e cada vez mais se distanciando do centro da meta do governo, de 4,5% pelo IPCA, tanto em 2008 quanto em 2009. Para segurar os preços, a arma da autoridade monetária é elevar a taxa básica de juros, que hoje está em 13,75% ao ano.

Meirelles, porém, demonstrou cautela, acrescentando que, em termos de política fiscal, o governo pode adotar novas medidas caso seja necessário. Ele argumentou que políticas expansionistas para aquecer a demanda interna são mais adequadas aos países que dependem mais de exportações aos EUA e à União Européia (UE), epicentros da turbulência internacional. Não é o caso do Brasil.

- O consumo doméstico (do Brasil) está bem, está forte, crescendo - disse.

BC: mercado prevê inflação perto do teto da meta

Indagado sobre política monetária, sobretudo em relação ao comunicado divulgado pelo G-20 no domingo, indicando a necessidade de mais cortes de juros, Meirelles se limitou a ler um trecho do acordo do grupo, que reúne as principais economias desenvolvidas e emergentes do mundo. Disse que esse movimento depende de cada país e, no caso do Brasil, lembrou que o cenário foi descrito na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada.

Analistas de mercado avaliaram que, pelo documento, o BC deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa de juros devido à pressão inflacionária. Meirelles insistiu que o problema do Brasil é a falta de liquidez internacional, que veio com a crise externa. Por isso, tomou medidas para garantir que o crédito no país não desapareça.

Sobre o encontro do BIS, Meirelles disse que houve consenso entre os presidentes dos bancos centrais de que a crise melhorou em relação ao cenário visto em outubro, mas que ainda não há previsão de quando ela possa acabar. E acrescentou que houve consenso de que medidas de regulação dos mercados financeiros são necessárias.

Pesquisa semanal do BC sobre inflação, realizada na sexta-feira e divulgada ontem, indica que, mais uma vez, a taxa está perto de atingir este ano o teto da meta fixada pelo governo. O levantamento mostra que o IPCA deve fechar 2008 em 6,40% - a meta oficial é de 4,50%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Na pesquisa anterior, esta expectativa estava em 6,31%.

COLABOROU Henrique Gomes Batista