Título: Primeira recessão do euro
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Fonte: O Globo, 15/11/2008, Economia, p. 29
Economia dos 15 países da moeda única encolhe 0,2%. Itália e Espanha têm retração
Da Bloomberg News*
Aeconomia da zona do euro mergulhou em sua primeira recessão desde 1999, quando foi criada. E o panorama não é dos mais animadores: economistas projetam piora para o período de outubro a dezembro e não acreditam que o crescimento retorne até o fim do ano que vem. No terceiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de bens e serviços produzidos) dos 15 países que compõem a zona do euro encolheu 0,2% em relação ao trimestre anterior, quando também se contraiu 0,2%, informou ontem o departamento de estatística da União Européia (UE).
Os dois trimestres de desaquecimento são resultado da crise financeira internacional, da valorização do euro - o que reduz a competitividade das exportações - e da alta dos preços do petróleo. Em relação ao terceiro trimestre de 2007, a economia da zona do euro cresceu 0,7%. Ambos os resultados estão dentro das estimativas de analistas.
Além disso, a Itália informou estar em recessão, e a Espanha anunciou que sua economia teve a primeira retração no terceiro trimestre. Alemanha e Irlanda já estão em recessão, enquanto Portugal e Holanda estão estagnados. A França, inesperadamente, registrou expansão de 0,1%, depois de ter recuado 0,3% no segundo trimestre. Analistas esperavam retração de 0,1%.
- O pior está por vir - disse Gilles Moec, economista do Bank of America em Londres.
Deutsche Bank e Citigroup também esperam que a desaceleração continue a curto prazo, em meio à pior crise financeira desde a Grande Depressão, iniciada em 1929.
Recuperação só em 2010, diz analista
A economia italiana recuou 0,5% no terceiro trimestre em relação ao segundo, quando registrou retração de 0,4%. É a quarta recessão do país em menos de uma década e a pior desde 1992. Já a Espanha teve retração de 0,2% no mesmo período, confirmando previsões do Banco da Espanha. Foi a primeira queda em 15 anos, o que levou o Partido Popular, de oposição, a afirmar que a Espanha vive uma grave crise.
Consumidores e empresas estão sentindo o problema sob a forma da deterioração de vendas, lucros e contratações, o que levou o Banco Central Europeu (BCE) a promover a rodada mais acelerada de reduções das taxas de juros de sua história e os governos a formularem programas de estímulo fiscal.
- Não haverá uma recuperação verdadeira antes de 2010 - disse Nick Kounis, economista do banco holandês Fortis.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, disse que a política monetária do banco vai ajudar a restaurar a confiança na economia européia, em mais um sinal de que haverá outro corte de juros, hoje em 3,25% ao ano, em dezembro. Ele disse que é essencial preservar a confiança da população na estabilidade de preços. Sobre a recessão na zona do euro, que não considerou uma surpresa, Trichet disse que a economia está em um período de "estagnação com dados negativos":
- Havíamos dito que a economia real havia sido atingida pela turbulência (dos mercados).
Mas para Marco Annunziata, economista-chefe do banco Unicredit, a recessão mostra que o BCE demorou muito para reduzir os juros:
- Temos agora a dolorosa prova de que houve um excessivo grau de complacência, o que implica que a resposta de política monetária na Europa ficou para trás.
A UE também informou ontem que a inflação da zona do euro recuou de 3,6% para 3,2% em outubro. Os custos de energia desaceleraram de 13,5% para 9,6%.
(*) Com agências internacionais
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