Título: Países do G-20 preferem reformar FMI a criar entidade para fiscalizar mercado
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Fonte: O Globo, 15/11/2008, Economia, p. 30

Sem medidas rápidas, mundo pode cair em uma depressão, diz Mantega

José Meirelles Passos e Marília Martins

WASHINGTON. Diante da resistência dos Estados Unidos à criação de uma entidade que fiscalize e estabeleça regras padronizadas para as instituições financeiras globais, a maioria dos países do G-20 - que reúne os ricos e os principais emergentes - acredita que o melhor seria reformar o Fundo Monetário Internacional (FMI), dando-lhe novos poderes. A reunião do G-20 começa hoje na capital americana, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se encontrou ontem com os com os líderes de Austrália, Japão, Reino Unido e Argentina. À noite, na Casa Branca, um jantar reuniu 20 chefes de Estado.

Espera-se que o encontro do G-20 obtenha uma lista de ações necessárias contra a crise, a serem analisadas até março, quando haveria uma reunião na França. Christine Lagarde, ministra de Finanças da França, disse que é essencial encontrar uma solução o quanto antes:

- Sem algum esforço para coordenar ações, seria como ter um cego guiando outro cego.

George W. Bush é contra a criação de uma agência reguladora global. O presidente eleito, Barack Obama, também já sinalizou nesse sentido. Ambos tampouco gostam da idéia de modificar o FMI, o que implicaria colocar mais dinheiro em seus cofres. Seu caixa hoje é de US$250 bilhões para empréstimos. Cálculos recentes indicam que um alívio substancial da crise demandaria US$1 trilhão.

- Para ter um papel eficiente na prevenção de crises, o FMI precisa ser visto como um conselheiro imparcial, em vez de apenas uma ferramenta dos EUA e de outras economias avançadas - disse Eswar Prasad, da Brookings Institution, em Washington.

Mantega afirma que Brasil não corre risco de recessão

O próprio FMI, que participa da reunião, afirmou ontem em comunicado que poderia, junto com o Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês), monitorar de forma mais eficiente o mercado. O diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, fez ontem algo inimaginável até pouco tempo: reuniu-se com líderes sindicais dos países do G-20. E concluíram que a crise está tendo um impacto sério sobre os trabalhadores.

Acompanhado dos ministros Guido Mantega e Celso Amorim, Lula passou o dia defendendo a adoção de medidas concretas para a regulamentação do sistema financeiro internacional e para a conclusão da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC).

- Se as políticas não forem sintonizadas, há risco de insucesso - disse Mantega. - Se não tomarmos medidas rápidas, corremos o risco de cair em uma depressão. Já se fala em depressão e não apenas em recessão, que está dada.

Ainda assim, ele assegurou que o Brasil não corre risco de recessão. Mantega e Amorim ressaltaram que entre as medidas debatidas no G-20 estão propostas brasileiras, como a adoção de câmaras para registrar operações de derivativos e a abertura de linhas de crédito no Banco Mundial para financiar operações de comércio exterior.

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