Título: Cúpula do PMDB encontra Temporão para tentar acordo de convivência
Autor: Jungblut, Cristiane; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 18/11/2008, O País, p. 4

Partido rejeita as críticas do ministro à gestão de presidente da Funasa

Cristiane Jungblut e Ricardo Galhardo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O PMDB tentará um "acordo de convivência" hoje com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, mas deixará claro que não aceitaria uma saída de Danilo Forte do comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), alvo de críticas do ministro. O encontro será entre Temporão, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) - esse responsável pelas principais indicações na Funasa. Ontem, Alves disse que a conversa será para "acertar o passo". Apesar da irritação da bancada com Temporão, o discurso é de que é preciso contemporizar, e não hostilizar o ministro.

- Queremos esclarecer de onde vem essa má vontade com a Funasa. Temos que saber o que ele pensa do Danilo, da Funasa. O encontro será para acertar o passo do ministério com a Funasa e com a bancada do PMDB - resumiu o líder.

Temer diz que houve "pequena divergência"

Em São Paulo, Temer disse que chegaram ao fim as pressões pela saída de Temporão.

- Não há cogitação (de pedir a saída de Temporão). O que houve foi uma pequena divergência - disse Temer, em evento que contou com a participação do ministro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na semana passada, Temporão irritou o PMDB ao dizer que a gestão da Funasa era de má qualidade e corrupta. Danilo Forte é apadrinhado por Alves, e o diretor-executivo da fundação, Josenir Nascimento, é afilhado do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Diante da indignação do PMDB, o ministro tentou explicar que se referia a gestões passadas.

- Os escândalos do Ministério da Saúde, com vampiros e sanguessugas, não tinham nada a ver com a Funasa - disse Henrique Alves.

Temporão tem dito ainda que quer criar uma secretaria especial para tratar da questão indígena, o que retiraria poderes da Funasa. O líder do PMDB afirmou que Temporão é um bom ministro, e um exemplo de sua boa vontade para com ele é a pressão junto ao Ministério da Fazenda para que sejam liberados mais R$2 bilhões em favor do Ministério da Saúde, até o final do ano. Realmente, antes das declarações de Temporão, a bancada do PMDB vinha pressionando a área econômica nesse sentido. Henrique Alves disse que falará pessoalmente com Mantega para pedir a liberação dos recursos.

O líder disse que a bancada indicou Danilo Forte e que chancela sua "ética e competência". Há uma possibilidade de a bancada na Câmara aprovar hoje, em reunião de manhã, moção de apoio ao presidente da Funasa.

Clima na bancada é de irritação com ministro

Michel Temer descartou que o PMDB vá continuar a pressionar o presidente Lula a promover uma reforma ministerial para acomodar o partido:

- De jeito nenhum. Não há nenhuma intenção de pedir ministério. Isso é fruto de especulação por causa do excelente resultado que o PMDB teve na eleição municipal.

Apesar dos discursos de contemporização, o clima na bancada é de constante irritação com Temporão. Deputados comentam que o ministro costuma eleger setores do partido para direcionar suas críticas, no embate sobre nomeações dentro do ministério. Temporão não tem uma boa relação com a bancada do partido do Rio de Janeiro, reclamam parlamentares fluminenses.

Outra reclamação é que Temporão está na cota do PMDB, mas que na verdade foi uma escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que usou o governador Sérgio Cabral para legitimá-la.