Título: Meirelles: G-20 deve substituir G-7
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 18/11/2008, Economia, p. 19
Presidente do BC reconhece que crise global é severa e afetará o Brasil
Ronaldo D"Ercole e Bruno Rosa*
SÃO PAULO, RIO e LONDRES. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que o G-20, que reúne as maiores economias industrializadas e emergentes do mundo, tende a se tornar um órgão mais importante do que o G-7 (grupo dos sete países mais ricos) como fórum para questões econômicas globais, como a atual crise financeira. Segundo Meirelles, a crise internacional é severa e deve durar ainda "um bom tempo". Mas a crescente participação dos países emergentes na economia mundial trará naturalmente ao G-20 maior relevância que organismos como o G-7, há anos o centro das decisões sobre a economia global.
- O G-20 está se tornando talvez um dos mais importantes órgãos, a médio prazo, de discussão desses problemas, suprindo uma parte do papel do G-7, tendendo a ocupar, a longo prazo, esse lugar. E por uma razão muito simples: porque os emergentes cada vez ocupam uma parcela maior na economia mundial - disse Meirelles, ontem em seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Ele voltou a advertir que o Brasil, embora tenha sido atingido só mais recentemente, não escapará dos estragos da crise financeira. Mas que, por desfrutar de condições macroeconômicas mais sólidas, tem como sustentar um ritmo de crescimento econômico melhor que a maioria dos países.
- O Brasil vai ter uma desaceleração no crédito, e no nível de atividade em geral, mas numa dimensão menor que outras economias. Vamos crescer acima da média global.
Para analistas, o conjunto de medidas a serem aplicadas pelo G-20 para neutralizar a atual crise financeira e evitar outras, como o acompanhamento dos 30 maiores bancos no mundo, é positiva, mas vem tarde. Para Luis Miguel Santacreu, analista do setor bancário da Austin Rating, mesmo a integração do sistema financeiro tendo começado há 25 anos, os BCs não foram capazes de criar sintonia para entender como funciona o mercado de operações mais sofisticadas. A dificuldade, afirma, é que cada governo tenta flexibilizar seu sistema para atrair investimentos.
- Os BCs acabaram dando mais atenção a questões como juros e inflação. Porém, essa parte do sistema financeiro ficou de lado. É algo muito difícil, pois cada mercado tem sua legislação. Além dos bancos, precisam ser levados em conta as agências de classificação de risco e os paraísos fiscais. Não será uma tarefa fácil, pois os governos, para atrair capital, tendem a ser flexíveis. E, no momento em que se aumenta essa fiscalização, as empresas podem migrar para mercados mais livres - disse Santacreu.
João Resende, analista do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), diz que a medida, apesar de complexa e difícil, tende a ser benéfica para o consumidor final:
- Haverá uma maior transparência. Por isso, o consumidor será beneficiado.
E há quem diga que essas medidas vão reduzir o lucro do setor financeiro.
- Inevitavelmente, uma maior regulamentação vai tornar os serviços financeiros menos lucrativos e coibir o excesso de risco - disse Peter Hahn, pesquisador da Faculdade de Administração de Empresas Cass, de Londres e ex-diretor-executivo do Citigroup.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, afirmou ontem que está disposto a apoiar estímulos fiscais para aquecer a demanda, como pediu o Fundo Monetário Internacional (FMI) na reunião do G-20.
(*) Com Bloomberg News e agências internacionais