Título: Commodities seguram inflação no Brasil
Autor: News, Da Bloomberg
Fonte: O Globo, 19/11/2008, Economia, p. 23

Cotações menores compensam dólar alto, mas receita das exportações deve cair

Bruno Villas Bôas

A forte queda de preços das commodities no mercado internacional - na faixa de 30% a 60% desde julho, conseqüência do menor crescimento da economia global - impediu a aceleração da inflação no Brasil, ao compensar a alta do dólar para a maioria dos produtos. Desde o piso de R$1,559 em 4 de agosto deste ano, a moeda americana valorizou-se 49,26% até ontem, quando fechou a R$2,327. Para economistas, a queda, a partir de julho, de preços de produtos agrícolas, industriais e do barril do petróleo já começa a contribuir para a desaceleração da inflação, como mostrou a segunda prévia de novembro do IGP-M, da Fundação Getulio Vargas (FGV). A queda de preços deve, contudo, reduzir o ritmo de crescimento da receita das exportações brasileiras para 6% no próximo ano, segundo projeção da consultoria MB Associados, após avanço de 17% em 2007 e de uma alta de 27,3% neste ano até outubro.

Segundo Salomão Quadros, economista da FGV, a queda das commodities permitiu a desaceleração de preços industriais e agrícolas no atacado. Os produtos agropecuários registraram deflação de 0,83% na segunda prévia do IGP-M de novembro, frente a uma alta de 0,71% em igual prévia do mês passado. Ele acrescenta que os produtos industriais, que contribuíam para a aceleração do índice, estão mudando sua trajetória.

- Nos EUA tivemos o terceiro mês consecutivo de deflação no atacado. Uma série de produtos está com taxa negativa. Só que eles não têm pressão cambial para compensar. No Brasil, precisamos combinar alta do câmbio e queda das commodities - avalia Quadros.

Levantamento das consultorias MB Associados e Tendências mostra, por exemplo, que o preço do petróleo recuou em Nova York de US$140,97 de 1º de julho para US$54,95 na última segunda-feira, queda 61%. Embora a Petrobras não repasse oscilações para combustíveis, produtos químicos e petroquímicos têm preços livres e começam a influenciar a inflação. Produtos agrícolas também tiveram queda, como trigo (-37,2%), soja (-46,1%), milho (-46,4%) e algodão (-31,5%). Na atividade industrial, as quedas foram registradas principalmente em metálicos, como níquel (52,1%), cobre (-58,9%) e zinco (40,9%).