Título: Deflação assombra ricos
Autor: News, Da Bloomberg
Fonte: O Globo, 19/11/2008, Economia, p. 23

Nos EUA, índice no atacado tem queda recorde de 2,8%. Preços ao consumidor britânico recuam

Da Bloomberg News

Adeflação está se mostrando como um dos novos desafios que a economia global tem pela frente. É o que mostraram dados de inflação dos Estados Unidos e do Reino Unido divulgados ontem. Nos EUA, o Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) registrou em outubro uma queda recorde de 2,8% - a maior da série histórica, iniciada em 1947. No Reino Unido, os preços ao consumidor caíram 0,2% em outubro, a primeira queda em sete anos, devido ao recuo nos preços de combustível, transporte e alimentação.

A queda na inflação no atacado americano foi puxada pelo recuo nas cotações internacionais das commodities, como petróleo, minério e grãos. Isso se deve à menor demanda por esses produtos, resultado da desaceleração da economia global, provocada pela crise nos mercados financeiros. Foi a terceira queda consecutiva: em setembro, o índice recuara 0,4%, e em agosto, 0,9%. Analistas ouvidos pela Bloomberg News esperavam queda de 1,9%.

- Os preços de combustíveis estão caindo como uma pedra e continuarão a cair - disse Michael Gregory, economista sênior da corretora BMO Capital Markets, para quem o recuo nos gastos dos consumidores terá um efeito em cadeia, podendo provocar pressões de deflação.

O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, considerados mais voláteis, subiu 0,4%, o que mostra que as quedas dos custos das matérias-primas ainda não chegaram aos outros produtos. Os preços de combustíveis recuaram 13% em outubro, a maior queda desde 1986. O índice de preços ao consumidor será divulgado hoje.

No Brasil, para analistas, a economia brasileira não corre risco de contágio pela deflação americana. Pode haver, sim, desaceleração dos preços no varejo, o que é visto por alguns economistas como um efeito benéfico da crise financeira global. Os preços dos produtos agrícolas, especialmente as commodities, vêm perdendo fôlego no mercado internacional, o que acaba chegando ao varejo, compensando também a alta do dólar. Os primeiros sinais dessa mudança no comportamento dos preços lá fora já chegou ao atacado. O IGP-10 detectou deflação de 0,85% nos produtos agrícolas em novembro, após alta de 0,54% em outubro.

- Deflação, nem pensar. Vamos passar é por uma desaceleração dos preços - diz o economista Elson Telles, da corretora Concórdia.

No Reino Unido, nos 12 meses encerrados no mês passado, a inflação ao consumidor recuou para 4,5%. Nos 12 meses terminados em setembro a taxa havia ficado em 5,2%. Foi a maior queda em 11 anos.

Juros no Reino Unido podem cair mais

Analistas acreditam que a queda abre caminho para que o Banco da Inglaterra, o BC do país, reduza ainda mais a taxa básica de juros, hoje em 3%. O índice de outubro, de 4,5%, ficou abaixo das estimativas de analistas, de 4,8%. Ainda assim, ficou acima da meta do governo, de 2%, pelo 13º mês consecutivo. Mas o BC inglês prevê que a inflação ficará abaixo do piso, de 1%, se a taxa de juros não for reduzida.

- A inflação agora é passado - disse Matthew Sharratt, economista do Bank of America em Londres. - Isso deixa a porta aberta para um corte profundo nos juros em dezembro.

Outros países da Europa têm registrado taxas negativas de inflação. Na zona do euro, o índice ficou estável em outubro, mas Alemanha, França, Bélgica, Irlanda, Portugal e Holanda registraram queda.

COLABOROU Liana Melo, com agências internacionais