Título: Com apoio de Lula, Temporão esvazia Funasa
Autor: Jungblut, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 19/11/2008, O País, p. 8

Ministro, que contrariou cúpula do PMDB, avisa que criará outro órgão para cuidar da saúde indígena

Cristiane Jungblut e Luiza Damé

BRASÍLIA. Com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que resolveu acabar com a fritura que vinha sendo feita por setores do PMDB, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, comunicou ontem à cúpula do partido que vai mesmo esvaziar a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e criar uma secretaria especial para cuidar da saúde indígena. Temporão despertou a ira de dirigentes peemedebistas ao apontar a corrupção e a ineficiência no órgão, presidido por Danilo Forte. Momentos depois de se reunir com o líder Henrique Eduardo Alves (RN) e o presidente do partido, Michel Temer (SP), para acertar um pacto de convivência e anunciar as mudanças, o ministro recebeu uma declaração pública de apoio de Lula.

Contrariando os desafetos do ministro, principalmente na bancada fluminense, Lula disse que Temporão permanecerá no cargo. Esses setores do PMDB, porém, conseguiram manter na presidência da Funasa Danilo Forte. Na semana passada, Temporão externou seu descontentamento com as muitas reclamações de líderes indígenas com o atendimento de saúde, e com as muitas denúncias de corrupção envolvendo o órgão. Diante da reação do PMDB, o ministro tentou explicar que se referia a gestões passadas.

- Fica (o ministro). Temporão é meu ministro - disse Lula, depois de participar de um almoço no Itamaraty.

Deputado diz que Temporão e PMDB fizeram as pazes

Após o encontro com Temporão, Alves disse que não se cogita a saída de Forte. O deputado admitiu, no entanto, que haverá mudanças administrativas e institucionais na Funasa. Em tom bem-humorado, ele disse que não houve pedido de desculpas no encontro com Temporão, e que o PMDB e o ministro "fumaram o cachimbo da paz":

- Temos um grande ministro. O que é preciso é ajustar as questões entre Funasa e ministério. Há uma intenção do ministro de aperfeiçoar a Funasa. Fumamos o cachimbo da paz. O ministro botou a bandeira branca e, assim, nós também.

Coube a Temer o papel de conciliador. Ele alertou que os dois lados estavam perdendo com a briga e que era preciso superar o mal-entendido. Já a Alves coube a tarefa de almoçar com Forte para acalmá-lo e relatar o acerto. Apesar de ter cedido na manutenção do comando do órgão, Temporão conseguiu fazer o PMDB engolir a criação de Secretaria de Atenção Básica e Proteção à Saúde, que tira poderes da Funasa e vai administrar a saúde indígena.

Índios invadem posto da Funasa e mantém 12 reféns

O PMDB diz que Temporão não tem bom relacionamento com Forte e que pretendia fazer as mudanças sem avisá-lo. E ainda que obras de saneamento em pequenos municípios (atribuição da Funasa) estão paradas. Temporão admitiu, na reunião, que há cerca de R$170 milhões não repassados, mas disse que estava sem verbas. Para mostrar que as divergências estavam superadas, Alves recorreu à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, pela liberação de R$2 bilhões. Ele disse ter conseguido pelo menos R$1,4 bilhão.

A Funasa confirmou que índios do Xingu invadiram o posto sanitário da instituição na cidade de Canarana, no Mato Grosso. Segundo a Funasa, 12 servidores são mantidos reféns. Pelo menos 130 índios participam da ocupação. Eles reivindicam que a Universidade Federal de São Paulo seja mantida como prestadora de atendimento médico na região. Eles reclamam da proposta do Ministério da Saúde de retirar da Funasa o programa de saúde indígena. "A Funasa está tentando resolver, da maneira mais rápida possível, o impasse, para que o posto seja desocupado e possa retomar os seus trabalhos de assistência à saúde", diz nota da Funasa.