Título: Começam obras da usina de Jirau, no Rio Madeira
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 20/11/2008, Economia, p. 27
Após constrangimento envolvendo atraso, Ibama, enfim, autoriza grupo Enersus a instalar canteiro. Mas licença é de 6 meses
Mônica Tavares
BRASÍLIA. Começaram ontem as obras da usina hidrelétrica de Jirau, a segunda no Rio Madeira, em Rondônia. O Ibama concedeu finalmente, após muita controvérsia, a licença para que o grupo Energia Sustentável do Brasil (Enersus) pudesse instalar o canteiro de obras. O documento foi publicado na página do órgão somente uma semana depois de o presidente do Ibama, Roberto Messias, ter concedido entrevista coletiva anunciando a medida.
Os atrasos do Ibama criaram uma situação tão constrangedora que, na última terça-feira, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, informou que entregou o documento "assinado e datado" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas mesmo assim o Ibama não publicou a licença na sua página.
O licenciamento emitido pelo Ibama, datado do último dia 14, permite que a Enersus construa a ensecadeira - desvio do Rio Madeira, na margem direita, com uma área total de 140,2 hectares. Mas a validade da licença é de apenas seis meses.
A hidrelétrica será feita nove quilômetros distante do local originalmente previsto, conforme queria a Enersus. Este foi o principal foco da disputa com o grupo liderado pela Odebrecht, que está construindo a usina de Santo Antonio, a outra do Rio Madeira. Segundo a Enersus, o deslocamento permitirá uma economia de R$1 bilhão.
O presidente da Enersus, Victor Paranhos, disse que recebeu a licença ontem de manhã e que em seguida foram enviados 15 equipamentos ao local do canteiro, inclusive tratores e caminhões. Ele acredita que vai dar tempo de construir a ensecadeira, pois o período de seca na região está prolongado, com o rio 30% abaixo da média histórica de volume.
- Com isso, poderemos começar a gerar energia a partir de janeiro de 2012 como previmos quando ganhamos a licitação - afirmou ele.
Fontes dizem que atraso se deveu à falta de documentos
Paranhos afirmou que a Enersus estava parada, à espera do documento do Ibama. Ele acrescentou que, nos próximos 14 dias, serão enviados ao canteiro de obras mais 110 equipamentos. Ele, porém, não quis comentar o atraso do licenciamento.
- Tudo foi apresentado, pergunte ao Ibama, nós contratamos os melhores técnicos para elaborar o projeto - disse o presidente da Enersus.
De acordo com fontes do mercado, o problema ocorreu porque faltaram documentos da Enersus e os técnicos do Ibama se recusaram a assinar o processo, mesmo após o anúncio público da concessão da licença.
A autorização de uso da água foi publicada no dia 14 no Diário Oficial da União pela Agência Nacional de Águas (ANA), mas sem a licença do Ibama o grupo não podia iniciar a construção da usina.
A hidrelétrica de Jirau terá capacidade de 3.300 megawatts (MW) e estão previstos R$9 bilhões em investimentos. São sócias do Enersus a Suez Energy (50,1%); a Camargo Corrêa Investimentos em Infra-Estrutura S/A (9,9%); a Eletrosul (20%) e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf (20%).