Título: De novo, alunos de particulares têm desempenho melhor que de públicas
Autor: Weber, Demétrio; Merola, Ediane
Fonte: O Globo, 21/11/2008, O País, p. 4

EDUCAÇÃO: Estudante mais bem colocado no Enem é do Espírito Santo.

No Rio, nota média da rede privada foi de 55,50; na pública, de 38,96

BRASÍLIA, RIO, SÃO PAULO e VITÓRIA. Mais uma vez, estudantes de escolas particulares tiveram melhor desempenho que os colegas da rede pública no Enem. Eles alcançaram nota média 56,12 no teste objetivo e 65,35 na redação, contra 37,27 e 57,26, respectivamente. Na prova objetiva, a maior distância entre rede pública e privada ocorreu na Bahia: 33,06 ante 55,34. Os resultados consideram apenas o desempenho dos concluintes do ensino médio.

No Rio, os estudantes do último ano do ensino médio de escolas públicas tiraram nota 38,96. Nas escolas particulares, a média foi de 55,50. O Enem seleciona candidatos a bolsas no programa Universidade para Todos (ProUni). Para conquistar uma vaga, é preciso atingir pelo menos 45 pontos de média, somando os resultados da prova objetiva com a redação.

O primeiro colocado no Enem estudou tanto em escola pública como em particular. Caio Nasser Mancini, de 19 anos, fez o ensino fundamental numa escola privada de Vitória, o Colégio Renovação, e depois fez boa parte do ensino médio no Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (Cefetes), que é público. Ele deixou a escola no terceiro ano e se matriculou no Colégio Charles Darwin, particular. Ele cravou nota cem na prova objetiva e 97,5 na redação.

O pai, Nilson Mancini Júnior, é engenheiro elétrico, e a mãe, Ana Lúcia Nasser Mancini, é analista de sistemas. Ele quer ser pediatra. Os últimos meses foram só estudo. A primeira etapa no vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo será no domingo. A estratégia de estudo incluiu horários de estudo nos fins de semana, evitar saídas com amigos, quatro horas diárias sobre livros e cuidados redobrados com redação. Foi a redação que o barrou no ano passado em medicina nas universidades Federais do Espírito Santo (Ufes) e de Minas (UFMG). Desde então, investiu na leitura de revistas e jornais.

- Redação era minha dificuldade. Idéias eu tinha, mas faltava organizar tudo com o tempo da prova. Adoro ler.

No Rio, Renato Lopes de Almeida, de 18 anos, segundo colocado no Enem, tira redação de letra. Ex-aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar), ele confessa que tremeu ao receber a ligação do MEC, informando sua média no Enem 2008: 98,75, sendo 96,83 na objetiva e 100 na redação.

Morador de Bangu, Renato terminou o ensino médio ano passado, na Epcar. Ao longo de 2008, fez o curso Elite, em Madureira, e, além de se preparar para o vestibular, prestou concurso para técnico administrativo do BNDES. Passou na seleção e assume em janeiro. Na prova do Enem e na do banco, Renato tirou nota máxima em redação.

- Até pensei em pedir para olhar a prova. É estranho acertar tudo numa redação. Não sabia se tinha ido bem.

Segundo Renato, os anos que passou na escola da Aeronáutica foram fundamentais:

- Eles visam à parte de exatas, analisamos gráficos, interpretamos textos. Desenvolvemos um raciocínio bem analítico. E é isso que o Enem exige.

Moradora de São Carlos (SP), Daniella Rantin, de 22 anos, também em segundo no Enem, empatada com Renato, garantiu uma vaga em medicina na UniRio - a universidade é uma das poucas que premiam com vagas o bom desempenho dos alunos no Enem. Formada em Ciências Biológicas pela UFSCar, Daniella voltou a fazer cursinho este ano quando se deu conta de que seu sonho era outro.

- No colegial, sempre quis fazer biologia. Na faculdade, vi que gostava era de cuidar de gente - conta Daniella, filha de psicóloga e biólogo.

Ela não compareceu ontem ao vestibular da UniRio para poder estudar para as provas da Fuvest, no fim de semana.

- Não pude viajar, mas estou com medo de não ter ficado com a vaga em medicina, apesar do segundo lugar. Isso porque a nota do Enem saiu um pouco atrasada. Não sei se eles (Uni-Rio) vão aceitar. Espero que sim. Em São Paulo, nenhuma universidade garante vaga com a nota do Enem - disse Daniella, que estudou sempre em escola particular e espera entrar em sua segunda universidade pública.

A direção da UniRio confirmou que vai acolher as notas do Enem.