Título: Previsão de recessão mundial
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 13/03/2009, Economia, p. 14

Economia do planeta ficará entre 1% e 2% menor este ano, o que pode provocar a morte de 400 mil crianças nos países pobres, segundo o Bird

Diante do aprofundamento da crise internacional, o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, fez ontem uma previsão sombria sobre o desempenho da economia global neste ano. Segundo sua estimativa, o Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países somados encolherá entre 1% e 2% em 2009. ¿Não vemos números assim desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o que na verdade significa desde os anos 1930. Estamos passando por um momento sério e perigoso¿, alertou Zoellick em entrevista ao jornal britânico Daily Mail. Na terça-feira, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, também projetou uma queda na geração de riquezas, mas não arriscou quantificá-la.

Zoellick afirmou que o comércio internacional deve registrar a maior contração em 80 anos e que a crise pode significar a morte de até 400 mil crianças por ano nos países pobres. Caso se concretize, a recessão vai interromper um ciclo de prosperidade sem precedente nos últimos 30 anos. Desde 2003, a economia mundial cresce a taxas maiores que 3,5%, atingindo o pico em 2006, ano em que a expansão foi de 5,09%. Os piores momentos da economia mundial, nas últimas décadas, foram os que se seguiram aos dois choques do petróleo. Na época, vários países experimentaram queda na produção de riquezas, mas o conjunto ainda assim ficou positivo. Em 1975, com as economias sofrendo os efeitos do primeiro choque, o PIB mundial aumentou 0,93%.

O pior desempenho da série se deu em 1982, depois da segunda explosão no preço do petróleo, quando a expansão econômica foi de só 0,89%. Na análise do economista Antônio Corrêa de Lacerda, especialista em economia mundial da PUC-SP, o PIB global não escapará de uma retração em 2009. ¿Isso é inevitável. Os Estados Unidos, o Japão e a União Europeia estão andando para trás de forma sincronizada. Só isso dá mais de 60% do PIB mundial. Ao mesmo tempo, os emergentes não conseguirão compensar essa perda¿, diz. O professor estima a contração entre 0,5% e 1%, mas admite a possibilidade de o rombo ficar na magnitude imaginada por

Zoellick. ¿Não é uma hipótese absurda. A crise é muito grave e muitos dos seus efeitos ainda estão por ser descobertos.¿

Para Lacerda, a recuperação poderá vir a partir de 2010 se os governos trabalharem em conjunto. Entre os países que já anunciaram os resultados do último trimestre de 2008, período em que os prejuízos foram mais visíveis até agora, o Brasil esteve entre os piores, com uma queda anualizada de 15,2%. A Tailândia lidera a lista com 22,3% negativos. Estados Unidos e Europa, epicentro da crise, recuaram 6,2% e 1,5% respectivamente. Ontem, as quatro maiores economias do globo, que já estão em recessão, anunciaram indicadores ruins. As vendas no varejo nos Estados Unidos cederam 9,8% em fevereiro.

O governo japonês reviu os números do PIB e concluiu que houve uma contração anualizada de 12,1% no último trimestre de 2008. Na China, que espera crescer 8% neste ano, a produção industrial caiu 3,8% e as vendas no varejo, 15,4% no primeiro bimestre. No mesmo período do ano passado, os dois indicadores haviam crescido 15,4% e 20,2% respectivamente. A produção industrial alemã caiu 7,5% em janeiro, marca nunca registrada ¿ os analistas esperavam no máximo 3%. O número de desempregados deve atingir o recorde de 3,7 milhões de trabalhadores neste ano, segundo a previsão do governo alemão.

-------------------------------------------------------------------------------- "Estamos passando por um momento sério e perigoso" - Robert Zoellick, Presidente do Banco Mundial