Título: Cassado, Cunha Lima vai recorrer ao Supremo
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 22/11/2008, O País, p. 12

Segundo colocado na eleição de 2006, senador José Maranhão anuncia renúncia para assumir governo da Paraíba.

JOÃO PESSOA e BRASÍLIA. O governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), anunciou ontem que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que confirmou, anteontem à noite, a cassação do seu mandato e do vice, José Lacerda Neto (DEM), por abuso de poder político e econômico. Ele disse que pedirá a anulação da decisão, alegando cerceamento de direito de defesa do vice-governador. E afirmou esperar que o TSE determine que ele fique no cargo até a decisão:

- É sabido que o TSE tem feito apreciações políticas dos processos, mas confiamos na Justiça. Os aspectos constitucionais haverão de ser preservados.

Cunha Lima e o vice foram condenados pela distribuição de 35 mil cheques da Fundação de Ação Comunitária a pessoas supostamente carentes, em troca de votos, na eleição de 2006. Eles recorreram ao TSE, que confirmou a decisão por sete votos a zero. O governador e o vice devem deixar os cargos no dia em que o acórdão do TSE for publicado no Diário da Justiça, na próxima semana. O segundo colocado nas eleições, o senador José Maranhão (PMDB), e seu vice, o vereador Luciano Cartaxo (PT), assumirão.

Ontem, o governador cassado anunciou a antecipação para hoje do pagamento de novembro e do 13º dos servidores estaduais, que estava previsto para a próxima semana. Ele quer deixar os salários pagos, antes de entregar o cargo. Cunha Lima é filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, que ficou conhecido no país depois de ter dado três tiros no rosto do ex-governador Tarcísio Burity, seu desafeto político, na década de 90.

Sem esconder a satisfação com a cassação do mandato do adversário, Maranhão disse que renunciará, sem qualquer receio, ao mandato no Senado, para assumir o cargo. Para ele, mesmo com a intenção de Cunha Lima de recorrer da decisão ao STF, não há risco de ficar sem os dois mandatos. Esta será a terceira vez que Maranhão irá governar o estado.

- Acredito na Justiça. Não haverá anulação. É o fim do neocoronelismo.

Ele reclamou, porém, da demora na decisão final:

- Mesmo provado o ilícito, o prejudicado não tem ressarcimento do tempo perdido. Fui vitorioso nessa eleição e me sinto como alguém injustiçado, mas que agora recupera seu direito.

Sorridente, José Maranhão afirmou ontem que só deverá ir ao estado no próximo dia 29, quando terá um compromisso muito importante: o casamento de uma filha.

COLABOROU Evandro Éboli

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