Título: Ex-chavistas mais perto do poder
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 22/11/2008, O Mundo, p. 32

Antigos aliados do presidente venezuelano lideram pesquisas em vários estados e são força emergente.

BUENOS AIRES. Em 2002, o ex-dirigente comunista Luis Miquilena, fundador do Movimento V República (MVR) e principal mentor da candidatura presidencial de Hugo Chávez nas eleições de 1998, abandonou o governo. Na época, o presidente assegurou que Miquilena sempre seria "um segundo pai" para ele. Mas o relacionamento entre ambos nunca se recompôs e Miquilena terminou sendo o primeiro de uma série de aliados do presidente venezuelano que nos últimos anos se atreveram a romper com o Palácio Miraflores e engrossar a fila de chavistas dissidentes. A lista de candidatos que amanhã disputarão cargos regionais numa eleição considerada decisiva pelo líder bolivariano reflete uma tendência que, segundo analistas locais, se aprofundará nos próximos meses: a fuga de chavistas para a oposição.

Duas fracassadas manobras políticas de Chávez explicam o fenômeno. Primeiro foi o lançamento do Partido Socialista Único da Venezuela, que após o forte rechaço de amplos setores chavistas passou a chamar-se Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Depois foi a vez da reforma constitucional que Chávez tentou (e não conseguiu) aprovar no referendo de dezembro do ano passado.

- Se amanhã (hoje) teremos chavistas dissidentes concorrendo a governos estaduais e prefeituras é porque, em grande medida, muitos partidos se negaram a desaparecer para passarem a pertencer a um único partido, liderado pelo presidente - explicou José Vicente Carrasquero, professor de Ciência Política da Universidade Simón Bolívar. - Para Chávez, quem não está com ele é traidor e muitos dirigentes políticos estão cansados da falta de espaço para divergir.

Dissidência se espalha nos estados

Durante a campanha eleitoral, Miquilena declarou que "as pessoas não são estúpidas, podem estar um tempo agüentando, sofrendo em silêncio. Mas isso não é eterno, está acabando e o presidente sabe bem disso". Basta observar o mapa político venezuelano para comprovar que a dissidência chavista é cada vez mais expressiva. Além dos estados governados atualmente pela oposição (Zulia e Nova Esparta), nos quais candidatos antichavistas têm grandes chances de vencer amanhã, em outras regiões do país o clima antichávez é cada vez mais forte. No estado de Carabobo, o atual governador, o general Luis Felipe Acosta Carlez, tentará reeleger-se e consolidar seu perfil antichavista. O caso é emblemático, já que o governador é irmão de Felipe Antonio Acosta Carlez, um dos cinco fundadores do Movimento Bolivariano Revolucionário 200, junto com Chávez, Jesús Urdaneta Hernández e Raúl Isaías Baduel. Baduel é outra figura importante dentro do processo de dissidência chavista. O general reformado foi artífice do retorno de Chávez ao poder após o golpe de abril de 2002, comandou durante anos o Exército e o Ministério da Defesa e em meados do ano passado abandonou o governo.

No estado de Guárico, a candidata do partido Pátria para Todos (PPT, um dos que se opôs à criação de um movimento único), Lenny Manuitt, é favorita. Seu pai, Eduardo Manuitt, atual governador, desvinculou-se do governo chavista. Em Sucre, o governador Ramón Martínez, outro ex-chavista dissidente, confia na vitória de seu candidato, Eduardo Morales Gil.

O candidato do Podemos ao governo do estado de Barinas, terra natal da família Chávez, Rafael Simón Jiménez, também pertenceu ao MAS e foi aliado do governo chavista. O mesmo caminho seguiu o congressista Ismael Garcia, uma das poucas vozes antichavistas na Assembléia Nacional. O principal adversário de Jiménez é Adán Chávez, irmão do presidente, que pretende assumir o cargo que será deixado por seu pai, Hugo de los Reyes Chávez. Outro forte opositor é Julio Cesar Reyes, ex-prefeito de Barinas.

No estado de Lara, Henry Falcón, expulso em abril passado do PSUV, está em primeiro lugar nas pesquisas e seria o único candidato respaldado pelo presidente (apesar da expulsão) que conseguiria uma vitória esmagadora nas urnas.

- Esta eleição está mostrando um país mais plural, um país onde muitos dirigentes estão deixando claro que não querem ser soldados de Chávez - disse a jornalista Gloria Bastidas.

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