Título: Das três grandes de Detroit, GM E Chrysler não chegariam ao fim do ano
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 23/11/2008, Economia, p. 28

Montadoras alegam que não sobreviveriam sem ajuda de dinheiro público.

José Meirelles Passos

DETROIT, Michigan. Do alto da imponente sede mundial da General Motors (GM), incrustada num vistoso cilindro de aço totalmente envidraçado, Rick Wagoner, seu presidente, tenta encontrar formas de estancar a hemorragia financeira da maior corporação dos Estados Unidos, um dos principais símbolos do poderio do país, ameaçado de ir à falência nas próximas semanas. Para muitos residentes de Detroit não deixa de ser irônico o fato do QG da empresa, que flerta com a própria morte, estar instalado justamente numa área da cidade denominada como Centro Renascença. Tanto na cidade quanto no Congresso americano há dúvidas sobre a capacidade de Wagoner, 55 anos, conseguir salvar a GM.

Essa dúvida sustenta a resistência do Senado em aprovar os US$25 bilhões solicitados por GM, Ford e Chrysler, como uma tábua de salvação. Das três, a Ford é a que tem melhores condições de se manter viável, graças a medidas preventivas tomadas ao longo dos últimos dois ou três anos. Assim como a GM, a Chrysler alega só ter dinheiro para funcionar até dezembro.

A GM é a que precisa de uma maior dose de injeção financeira. Ela vem perdendo o equivalente a US$181 mil por minuto, e teria de obter pelo menos metade dos US$25 bilhões só para poder se sustentar até fins de janeiro, quando espera, já sob o governo de Barack Obama, obter uma ajuda pública ainda maior.

Dos três diretores-executivos que foram ao Congresso na semana passada pedir socorro, Wagoner ¿ tido informalmente como o líder do grupo, por ter mais experiência no setor e presidir a maior das chamadas ¿Três Grandes¿ ¿ foi quem justamente mais alimentou a resistência do Senado em ajudar o setor.

Arrogância de executivo da GM irrita parlamentares

Christopher Dodd, presidente da Comissão Financeira do Senado, disse que não gostou da arrogância de Wagoner. Quando os senadores insinuaram que seria mais fácil as empresas obterem a ajuda caso houvesse uma mudança em sua direção, Wagoner disse que não pensava em se demitir. Motivo?

¿ Para ser bem honesto, acho que num momento como esse precisamos ter as melhores pessoas no comando. E creio que tenho uma equipe bem experiente e muito bem coordenada ¿ disse ele, irritando os parlamentares.

Wagoner provocou mais irritação ao insistir que as agruras da GM se devem basicamente à atual crise do sistema financeiro americano, e não a falhas de administração interna. Fontes do setor disseram, na sexta-feira, que o ríspido diálogo entre os senadores e o chefão da GM, levaram alguns membros da diretoria a vê-lo como um empecilho ¿ e não uma saída.

Alguns diretores dizem que a crise piorou a situação da GM, mas não foi a principal causa de sua decadência. Quando Wagoner tomou as rédeas da empresa em 2000, a GM faturou US$4,5 bilhões e cada ação da empresa valia US$69,81. Em 2007, o grupo teve um prejuízo de US$38,7 bilhões. A ação da empresa agora não chega a valer US$3 e a participação no mercado americano encolheu de 28% em 2000 para os atuais 19,9%.

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