Título: Nossa democracia é uma caricatura
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 23/11/2008, O Mundo, p. 33

Líder da oposição diz que adversários de Chávez esperam avançar e que país vive guerra não declarada.

Em meio a denúncias de enriquecimento ilícito sustentadas pelo próprio presidente Hugo Chávez, o governador do estado Zulia, Manuel Rosales, figura de proa da oposição venezuelana, tentará vencer amanhã a eleição para prefeito da cidade de Maracaibo, capital do estado. Em entrevista ao GLOBO, Rosales defendeu a necessidade de ampliar os espaços opositores como única alternativa para enfrentar os problemas do país, sobretudo a insegurança, principal preocupação da sociedade venezuelana. ¿Estamos vivendo uma guerra não declarada¿, disse o candidato, em referência aos índices de criminalidade do país.

O senhor espera um resultado favorável para a oposição?

MANUEL ROSALES: Esperamos que a partir de domingo nosso mapa político não seja totalmente vermelho. Queremos avançar, não só nos estados de Zulia e Nova Esparta. Nosso principal obstáculo é o talão de cheques de Chávez, que com o dinheiro do petróleo tenta manipular o país.

O senhor acredita numa possibilidade de conciliação com Chávez?

ROSALES: Numa sociedade civilizada, o lógico seria tentar alcançar acordos, mas Chávez sempre apela para a violência e a agressão. Não espero que o presidente estenda a mão.

O que mais preocupa os venezuelanos é a insegurança...

ROSALES: Vivemos um caos e para sair desse caos a política de Chávez não ajuda, porque ele divide e ataca. O presidente quer permanecer eternamente no poder. Ele usa seu poder para manipular a educação de nossos filhos, para atentar contra a propriedade privada. A falta de segurança é uma questão real e dramática. Requer políticas urgentes, porque estamos vivendo uma guerra não declarada.

Nos últimos anos especulou-se sobre a presença de paramilitares na Venezuela...

ROSALES: Nos últimos anos, paramilitares e guerrilheiros começaram a mover-se em nosso território. São grupos vinculados ao narcotráfico, a máfias. Precisamos de uma política consistente de defesa de nossas fronteiras, para afastar flagelos alheios, sobretudo da Colômbia.

O senhor considera adequada a atitude dos demais governos da região em relação a Chávez?

ROSALES: O problema da Venezuela é um problema de toda a região, mas também é verdade que somos nós que devemos resolvê-lo. E nosso problema é que aqui os poderes do Estado não são independentes.

O senhor teme ser preso?

ROSALES: Todos temos de estar atentos, porque este é um governo militarista e autoritário. Nossa democracia é uma caricatura.

Chávez assegurou que o senhor é um corrupto confesso...

ROSALES: São as eternas mentiras dele. Temos de estar atentos porque este é um governo descontrolado, temos muitos presos políticos, muitos exilados. (Janaína Figueiredo)