Título: Teste decisivo para Chávez
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 23/11/2008, O Mundo, p. 33
Após derrota em referendo, presidente aposta capital político nas eleições de hoje.
Pouco menos de um ano depois de ter sofrido sua primeira derrota eleitoral, no referendo sobre o polêmico projeto de reforma constitucional, rechaçado por mais de 50% dos venezuelanos, o presidente Hugo Chávez enfrenta hoje um novo plebiscito. Cerca de 17 milhões de eleitores venezuelanos irão às urnas para eleger 22 governadores, 328 prefeitos e 233 legisladores regionais, numa disputa que acabou se transformando em nova queda-de-braço entre o líder venezuelano e seus opositores. Na campanha, Chávez visitou todos os estados e assegurou que quem votasse contra seus candidatos estaria votando contra ele e traindo a revolução bolivariana.
¿ Um voto contra meus candidatos será um voto contra mim ¿ declarou o presidente.
De acordo com as últimas pesquisas realizadas por empresas de consultoria locais, o governo chavista deverá obter um resultado superior ao de seus opositores (em termos globais, em torno de 55% de votos, contra 45% da oposição), mas poderia perder o governo de estados como Zulia, Nova Esparta, Carabobo, Sucre e Guárico. Na região metropolitana de Caracas, o mais provável, disseram analistas locais, é que o partido governista triunfe, mas será uma vitória apertada. Às voltas com dramas econômicos (pobreza, inflação em torno de 30% ao ano, desabastecimento de alimentos e queda do preço do petróleo, principal fonte de financiamento do governo chavista) e sociais (a insegurança é a principal preocupação da sociedade venezuelana), tudo indica que o governo chavista terá motivos para comemorar, mas não será uma vitória esmagadora.
¿ Esta é uma eleição regional, mas acabou virando um novo plebiscito que deverá favorecer o governo. Agora, não teremos um triunfo contundente do chavismo, teremos, mais uma vez, um país polarizado ¿ explicou ao GLOBO Ignácio Ávalos, diretor da ONG Olho Eleitoral, que atuará como observadora. Segundo ele, ¿o pior que poderia acontecer seria que Chávez conseguisse arrasar nesta eleição, porque isso significaria uma radicalização do processo revolucionário¿.
Um país dividido, empobrecido e mergulhado numa crise de violência urbana e rural cada vez mais dramática. Essa é a Venezuela que hoje elegerá novas autoridades. Pesquisas divulgadas recentemente no país mostraram que a insegurança é considerado o principal problema nacional. De acordo com relatório elaborado pelo Instituto Venezuelano de Análise de Datos (IVAD), a falta de segurança foi apontada como o maior drama do país por 69,5% dos entrevistados.
As estatísticas são assustadoras. Recentes dados recolhidos pelo Centro para a Paz da Universidade Central da Venezuela (UCV) mostraram que nos primeiros nove meses deste ano os homicídios aumentaram 11%, em relação ao mesmo período do ano passado. Já os seqüestros cresceram 45%. Entre janeiro e outubro deste ano, foram cometidos 10.600 homicídios no país. Em 2007, foram contabilizados 270 mil delitos, dos quais 13.236 foram homicídios. Nos primeiros nove meses de 2008, o número de roubos subiu 8,06%.
País pode fica ainda mais dividido
Com este pano de fundo, analistas locais temem que uma moderada vantagem de Chávez nesta eleição seja usada pelo presidente como cheque em branco para aprofundar sua revolução e aumentar o clima de tensão.
¿ O presidente vai manter seu poder e a oposição poderá ficar com três ou quatro governos estaduais. O que é certo é que Chávez vai tentar avançar com sua revolução, isso aumentará a divisão do país, a tensão nervosa dos venezuelanos, a angústia, os problemas econômicos e a violência nas ruas ¿ assegurou Carlos Romero, professor da UCV.
Para ele, a palavra reconciliação não existe no dicionário chavista.
¿ O presidente interpretará o resultado como um cheque em branco para continuar aprofundado seu projeto. Vejo-o cada vez mais radical e duro ¿ disse Romero.
O analista venezuelano antecipou, porém, algumas pedras no sapato de Chávez a partir do ano que vem:
¿ O preço do petróleo poderia continuar caindo, o presidente poderia receber mais críticas internacionais, ficar mais isolado.
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