Título: Atrasos e acusações contra Chávez em eleições
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 24/11/2008, O Mundo, p. 23

Segundo oposição, governo prorrogou votação para evitar derrota. Chavistas teriam levado gente para votar.

BUENOS AIRES. Depois de uma campanha eleitoral caracterizada pela troca de acusações entre o presidente Hugo Chávez e seus opositores, a Venezuela foi cenário ontem de uma nova disputa nas urnas, desta vez para eleger 22 governadores, 328 prefeitos e 233 legisladores regionais. Até às 22h de ontem, o clima no país era de incerteza e tensão. Por demoras que chegaram a mais de cinco horas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) prorrogou o horário de votação (que segundo normas venezuelanas termina às 16h), medida considera inconstitucional pela oposição, que rapidamente denunciou supostas manobras do governo para tentar impedir um resultado adverso.

População temeria represália de Chávez

A reação dos antichavistas tem explicação: a grande maioria dos eleitores que votou na parte da manhã e no início da tarde foram membros das classes média e média alta (leia-se opositores). Já no final do dia foi observada a participação dos setores populares, tendência que favoreceria um melhor resultado para os candidatos chavistas.

Mais uma vez, a oposição denunciou uma operação de última hora (chamada por eles de operação reboque), que teria sido organizada pelo governo para levar eleitores das classes mais baixas aos centros de votação. A mesma operação, segundo setores da oposição, teria sido realizada em dezembro passado, no referendo sobre o projeto de reforma constitucional chavista, que acabou sendo rechaçado por mais de 50% dos venezuelanos. Analistas locais explicaram ontem que muitos venezuelanos dos setores mais humildes do país estão desencantados com a revolução bolivariana comandada por Chávez, mas temem retaliações se votarem contra o governo (perder o emprego ou o acesso a programas sociais) e acabam optando pela abstenção. Esses são os eleitores que o Palácio Miraflores teria tentado arrastar ontem para as urnas.

Segundo dados preliminares recolhidos por empresas de consultoria locais, candidatos antichavistas (opositores puros e chavistas dissidentes) teriam vencido em entre duas e sete eleições para governador (atualmente a oposição governa dois estados venezuelanos). Chávez transformou esta eleição regional em plebiscito e assegurou que do resultado dela dependeria o futuro da revolução.

Após emitir seu voto, o presidente venezuelano garantiu que respeitaria o resultado e pediu, em tom de ameaça, a mesma atitude por parte da oposição.

- Na Venezuela é impossível cometer fraude. Em todos os casos, o Estado está preparado para garantir o cumprimento da vontade popular - declarou Chávez, que nos últimos meses visitou todos os estados venezuelanos, acusou de traição os chavistas dissidentes que se atreveram a desafiar o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e lançaram candidaturas opositoras e disse que quem votasse contra seus candidatos estaria votando contra o governo.

O líder bolivariano aproveitou para defender o processo revolucionário e a criticada democracia de seu país:

O governador do Estado Zulia e candidato a prefeito da cidade de Maracaibo, capital estatal, Manuel Rosales, um dos principais adversários políticos do presidente e provável vitorioso na eleição de ontem, afirmou que a oposição "obterá resultados extraordinários". Alguns analistas especulavam com a possibilidade de um chavista dissidente vencer a eleição para governador no estado de Barinas, terra natal da família Chávez. Se a tendência se confirmar, Julio César Reyes terá derrotado Adán Chávez, irmão do presidente. Quem entregará o governo estadual será o pai de Chávez, Hugo de los Reyes Chávez, acusado por seus opositores de corrupção e enriquecimento ilícito. As projeções mais otimistas também apontavam a possibilidade de uma vitória opositora nos estados de Carabobo, Nova Esparta, Miranda, Guárico e Táchira, no município de Sucre de até mesmo em Caracas.

Se isso se confirmar, o cenário político da Venezuela se tornaria mais variado, dificultando o chavismo. O ministro da Defesa, general Gustavo Rangel, assegurou que os venezuelanos votaram num clima de paz. O mesmo relatou o chefe do Comando Estratégico Operacional da Força Armada Nacional (FAN), Jesús González González.