Título: Tibete: Dalai Lama já fala sobre sua sucessão
Autor: Costa, Florência
Fonte: O Globo, 24/11/2008, O Mundo, p. 24
Com saúde frágil, líder espiritual diz que vai escolher em vida seu seguidor para evitar interferência chinesa.
DHARAMSHALA, Índia. Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, atravessa o pátio que separa a sua residência do monastério Tsuglakhang, na Índia. Entra no templo principal, apinhado de centenas de discípulos, em silêncio. Os tibetanos não querem ouvi-lo falar de sua ausência, um assunto tabu. Mas, com a tranqüilidade costumeira, o Dalai Lama, 73 anos, dá sinais de que poderá escolher em vida seu próximo sucessor, quebrando uma tradição de séculos, para evitar a interferência da China.
A preocupação é geral entre os tibetanos diante das notícias de que sua saúde já não é mais de ferro (ele internou-se duas vezes este ano para a retirada de cálculos biliares). Mas ele assegura que não vai sair de cena enquanto estiver vivo e continuará à frente da luta tibetana:
¿ Não está em questão a minha aposentadoria. É minha responsabilidade moral trabalhar pela causa tibetana até a minha morte ¿ diz.
O líder espiritual dos tibetanos, há meio século no exílio na Índia, explica que a sua sucessão tem várias alternativas e que caberá ao povo tibetano decidir qual é o melhor caminho. O objetivo é evitar que, após a sua morte, a China aponte o seu sucessor, como acreditam os tibetanos.
Monge de 23 anos é candidato à sucessão
Uma opção é a da escolha de um jovem monge que pertence a outra escola do budismo tibetano, diferente da do Dalai Lama, a Gelug. Trata-se do Karmapa Lama, 23 anos, que mora recluso em um monastério a 15 quilômetros de onde vive o Dalai. Karmapa ¿ ou Ugyen Thinley Dorjee ¿ fugiu do Tibete para a Índia em 2000 e é o segundo mais importante monge tibetano no exílio. Ele pertence à escola Karma Kagyu.
¿ O Karmapa é muito inteligente, educado e experiente em Tibete. Recentemente, ele começou a viajar para o exterior. Ele está se tornando um bom líder e poderá ser o chefe espiritual ¿ disse o Dalai.
A segunda opção é o líder budista escolher o seu sucessor, uma criança que representa sua reencarnação. Estrategicamente, essa alternativa é mais delicada porque haveria um vácuo até que o escolhido chegasse à idade adulta.