Título: Chuva mata 63 em Santa Catarina
Autor: Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 25/11/2008, O País, p. 3

Número de vítimas pode ser ainda maior; oito cidades estão totalmente isoladas.

Pelo menos 63 pessoas morreram em conseqüência das chuvas que castigam Santa Catarina desde sexta-feira passada. Oito cidades estão isoladas, e dezenas vivem o caos completo, sem energia elétrica, sem fornecimento de água, sem gás, e com ruas alagadas, casas destruídas, estradas interditadas, além de desabamentos sem fim. O número de desabrigados já passa de 14,5 mil pessoas, segundo a Defesa Civil, e outras 28,5 mil pessoas estão desalojadas. Há quatro meses a chuva castiga o litoral, o Vale do Itajaí e o Norte de Santa Catarina, mas desde sexta-feira a situação se agravou. Apenas ontem, a Defesa Civil localizou 43 corpos.

Das vítimas, 62 morreram soterradas, e uma se afogou. O município que mais registrou mortes foi Ilhota (15), seguido por Blumenau (13). Os oito municípios isolados são Luiz Alves, São Bonifácio, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoá e Benedito Novo.

- Santa Catarina enfrenta a pior tragédia climática da história. É uma crise que precisa de união de todos - disse o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), após reunião com o secretário nacional de Defesa Civil, Roberto Costa Guimarães.

Silveira e Guimarães sobrevoaram áreas atingidas pelas enchentes. À tarde, o governador de Minas, Aécio Neves, cedeu dois helicópteros do Corpo de Bombeiros e da PM para o socorro às vítimas. Na véspera, o estado já havia recebido ajuda do governo do Paraná e do Exército, além de alimentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O assessor da Defesa Civil de Blumenau, Telmo Duarte, informou que a situação no município é grave. O nível do Rio Itajaí-Açu atingiu 11,52 metros acima do normal na noite de domingo, baixando ontem a 9,84 metros. Deslizamentos de encostas provocaram o desabamento de casas, com pessoas soterradas.

- Temos 17 áreas de risco, todas afetadas. Acreditamos que possa haver mais vítimas.

Pessoas ainda ilhadas, à espera de socorro

O município com maior número de mortes é Ilhota, com 12 mil habitantes, no Vale do Itajaí, onde 15 pessoas foram soterradas. O prefeito Ademar Felisky diz que o cenário é de tragédia:

- No outro lado da margem do Rio Itajaí-Açu, as pessoas estão ilhadas, e não temos condições de chegar até lá. Antes, a travessia era feita por balsa, mas a correnteza do rio impede a chegada até lá. Muitas famílias, para enterrar seus mortos, estão fazendo caixões com pínus em casa.

Felisky contou que são mais de 2.500 desabrigados, cujas casas foram destruídas pelos deslizamentos ou arrastadas pela água. As pessoas estão em igrejas e escolas. Muitos moradores que tiveram as casas alagadas preferiram ficar em lonas na beira do rio para vigiar a residência, temendo a ação de ladrões. Famílias que conseguiram salvar seus pertences deixaram tudo na rua. É possível ver móveis, geladeiras, fogões e utensílios na frente das casas, relata Felisky.

Em solenidade em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem um minuto de silêncio pelas vítimas.

- Estamos vivendo um momento de tristeza em Santa Catarina. Eu acabei de falar com o governador. Vamos mandar aviões da Aeronáutica para ajudar com o resgate e amanhã irão mais ministros para ver o que é possível - disse, referindo-se a Geddel Vieira (Integração Nacional), Jorge Félix (Segurança Institucional) e Alfredo Nascimento (Transportes).