Título: Chefe da inteligência da PF manda Protógenes tentar vaga em outra área
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 25/11/2008, O País, p. 4

Delegado foi afastado da Operação Satiagraha e agora fica na "geladeira".

BRASÍLIA. Depois de concluir o curso de especialização na Academia Nacional de Polícia, o delegado Protógenes Queiroz, ex-coordenador da Operação Satiagraha, retornou ontem à sede da Polícia Federal, mas não pôde trabalhar. Numa conversa de 15 minutos, Protógenes foi informado pelo diretor de Inteligência, Daniel Lorenz, que não atuará mais na área. Lorenz avisou que, a partir de agora, Protógenes deverá buscar, na Diretoria de Gestão de Pessoal, vaga para trabalhar em qualquer outro setor, menos na Diretoria de Inteligência, onde estava lotado até o lançamento da Satiagraha em julho deste ano.

- Ele (Protógenes) terá que ver, agora, no Setor de Lotação e Movimentação onde há vaga para delegado. Não há nada definido ainda - disse um auxiliar do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa.

Sem vaga, delegado pediu licença de 15 dias

Até que a situação se resolva, o delegado pediu 15 dias de licença para preparar sua defesa no inquérito sobre vazamento de informações da Operação Satiagraha, aberto pela Corregedoria-Geral em São Paulo, e também numa sindicância que investiga suposta gravação de conversas da desembargadora Cecília Mello, do Tribunal Regional da 3ª Região, em São Paulo. Protógenes disse que teve uma conversa cordial com Lorenz e que acolherá qualquer decisão da administração sobre seu futuro local de trabalho.

- Como servidor público, tenho que atender às determinações da administração - disse o delegado.

Protógenes e Lorenz tiveram sérias divergências em abril deste ano, depois do primeiro vazamento de informações cruciais da Satiagraha. Na época, Protógenes se queixou de Lorenz e Luiz Fernando Corrêa. Além de Protógenes, naquele momento os dois diretores eram as duas autoridades que mais sabiam sobre a Satiagraha, que investiga supostos crimes financeiros do banqueiro Daniel Dantas. Irritado com as desconfianças do subordinado, Lorenz determinou sua transferência temporária para a Diretoria de Combate ao Crime Organizado. As diferenças entre os dois se acentuaram depois do lançamento da Satiagraha, em 8 de julho.

Dois dias depois das prisões do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e do investidor Naji Nahas, Corrêa determinou a abertura de inquérito criminal para investigar suposto envolvimento de Protógenes em vazamento de informações da Satiagraha.

"As operações da PF não são personalizadas"

Luiz Fernando Corrêa disse que Protógenes volta para a PF, mas não participará das investigações da Satiagraha, ainda em curso em São Paulo. Corrêa argumenta que outro delegado, Ricardo Saadi, já está à frente desta nova etapa da operação.

- As operações da Polícia Federal não são personalizadas - disse o diretor.

Protógenes afirma que seguirá as ordens da direção, mas, se pudesse escolher, preferiria continuar à frente de investigações criminais, e não em cargos burocráticos. Ele argumenta que fez o concurso para delegado porque gosta de investigar. E voltou a negar que tenha pretensão de fazer carreira política. Ele disse que várias pessoas já fizeram sugestões para que ele concorra a algum cargo eletivo, de deputado a presidente da República. Mas o delegado afirmou que não pensa em deixar a polícia.

- Meu compromisso é com a sociedade. Acho que produzo melhor na polícia. Além do mais, não tenho perfil para a política - disse.