Título: Cunha Lima comanda farra antes de deixar cargo
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 25/11/2008, O País, p. 5

Com maioria na Assembléia da Paraíba, governador tucano faz aprovar projetos que aumentam gastos para sucessor.

JOÃO PESSOA (PB). Com os dias contados para deixar o Palácio da Redenção, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), decidiu abrir os cofres do governo e enviou para a Assembléia Legislativa um pacotaço, que garante aumento de salário para diversas categorias de servidores, como procuradores e controladores do Estado, professores universitários e até jornalistas das repartições públicas. Com as propostas aprovada ontem, os salários dos procuradores vão dobrar, passando de R$4 mil para R$8 mil.

A toque de caixa, os deputados estaduais realizaram dez sessões extraordinárias, na manhã de ontem, que duravam no máximo cinco minutos cada. A cena era inusitada. Com maioria no Legislativo, Cunha Lima conseguiu aprovar todas as propostas. Os aumentos salariais serão sancionados por ele antes de sua saída. À noite, os deputados, em novas reuniões extras, votariam até o Orçamento para 2009, o que normalmente só acontece em dezembro.

No fim do dia, o governo anunciou a contratação imediata de 854 concursados na área de saúde, que aguardavam a nomeação há meses. Na semana passada, o governador tucano, também após sua cassação pelo TSE, já havia anunciado a antecipação salarial do pagamento do 13º salário.

A iniciativa do governador irritou deputados da oposição, que não compareceram às votações extraordinárias. Para os aliados do senador José Maranhão (PMDB), que tentará assumir o governo esta semana, Cunha Lima quer inviabilizar a gestão do sucessor, criando despesas que não estavam previstas.

- Isso é um escândalo! Se o governador já está cassado, e aguarda apenas uma publicação para sair fora, deveria negociar uma transição - protestou o deputado estadual Jeová Campos (PT), aliado de Maranhão.

Ausente, oposição facilita aprovação dos projetos

Com maioria sólida na Assembléia - 20 deputados de um total de 35 - e a ausência da oposição, todos os projetos foram aprovados por unanimidade. Só dois opositores estiveram na Assembléia e criticaram a medida do governador.

- O que está acontecendo aqui é um absurdo - discursou Gervásio Oliveira (PMDB), o líder da oposição, sem sucesso.

O presidente da Assembléia, o governista Arthur Cunha Lima (PSDB), que é primo do governador, estava no comando da votação e rebatia as críticas:

- Não concordo com o que diz, mas sou obrigado a lhe dar a palavra. E vamos para mais uma sessão extraordinária.

Os governistas argumentaram que apressaram a votação porque José Maranhão não gosta dos servidores e jamais iria conceder os reajustes.

- Maranhão foi oito anos governador e tratou o funcionário público grevista embaixo do revólver, no cassetete da polícia - alegou Manoel Rudgério (PDT), líder do governo.

Ricardo Barbosa (PSDB) defendeu a aprovação.

- Eram projetos que votaríamos com calma ao longo do resto do mandato do Cássio. Agora, tivemos que votar correndo. Do contrário, os servidores jamais teriam esses benefícios. E o Maranhão não pode revogar nenhuma decisão dessa, que é soberana - disse Barbosa.