Título: EUA socorrem Citigroup com US$20 bilhões
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Fonte: O Globo, 25/11/2008, Economia, p. 21

Governo ainda vai garantir US$306 bi em empréstimos do banco.

NOVA YORK, RIO e SÃO PAULO

Mais um banco "grande demais para quebrar" foi socorrido pelo governo americano. No fim da noite de domingo, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciou um plano de resgate para o Citigroup, que vinha enfrentando dificuldades devido a perdas bilionárias nos mercados e viu suas ações caírem 60% semana passada. Os EUA vão injetar US$20 bilhões no Citi e ainda darão garantia a US$306 bilhões em empréstimos do banco. O pacote é o mais extenso já dado a um banco americano na atual crise global e a terceira tentativa da Casa Branca em três meses de acalmar os mercados. O Citi já havia recebido US$25 bilhões do governo há cerca de um mês.

Em contrapartida, o Citi terá de suspender o pagamento de dividendos pelos próximos três anos, e o salário de alguns executivos terá de ser analisado pelo governo. Mas o banco não terá de substituir seu diretor-executivo, Vikram Pandit. Ontem, o Citi enviou mensagem a seus correntistas - inclusive brasileiros - informando que seus depósitos e aplicações em conta corrente estão agora garantidos pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, a agência american que garante os depósitos do sistema bancário) até dezembro de 2009.

Dos US$306 bilhões em empréstimos imobiliários residenciais e comerciais, o Citi vai assumir US$29 bilhões em perdas. O restante será dividido entre o banco e o governo, na proporção de 10% e 90%, respectivamente.

Com R$39,4 bilhões em ativos, a operação brasileira do Citi figurava em 12º lugar entre os maiores bancos do país em junho. Se consideradas a fusão de Itaú e Unibanco, a incorporação do Real pelo Santander e a aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, o Citi sobe para o nono posto, segundo a consultoria Austin Rating. Embalado pelo bom momento da economia brasileira, desde 2004 a rede de agências do Citi passou de 33 para 123. Seu lucro líquido somou R$1,2 bilhão no primeiro semestre, contra R$1,7 bilhão em todo o ano de 2007. Segundo Luiz Miguel Santacreu, da Austin, o Citi tem uma estrutura de custos reduzida, o que o torna muito eficiente no Brasil. O diretor-executivo do rival HSBC, Stephen Green, afirmou ontem que estaria interessado em comprar ativos do Citi para se expandir na Ásia e América Latina.

Bolsa de SP sobe 9,4% e dólar recua 5,4%

O presidente George W. Bush afirmou ontem que o socorro ao Citi era necessário "para salvaguardar o sistema financeiro". Depois de contar que aprovou o resgate no avião ao voltar do Peru para Washington, Bush disse que poderá haver outros resgates no futuro e que o presidente eleito, Barack Obama, está sendo informado sobre essas operações.

As ações do Citi chegaram a subir 66% ontem, fechando em alta de 57,82%, a US$5,95. O socorro foi bem recebido: as bolsas de Paris e Frankfurt saltaram pouco mais de 10%. Londres subiu 9,84%. Em Nova York, o índice Dow Jones avançou 4,93%, enquanto Nasdaq e S&P ganharam 6,33% e 6,47%, respectivamente. Apesar do otimismo, a Controladoria de Nova York afirmou ontem que a onda de demissões em Wall Street pode custar a Nova York 225 mil vagas até 2010. O Citi só não animou o mercado asiático: Hong Kong recuou 1,59% e Seul, 3,35%.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 9,4%, para 34.188 pontos, a maior alta desde 28 de outubro. Já o dólar recuou 5,41%, para R$2,325. As maiores altas foram de setores ligados a commodities e bancos. A recuperação dos preços internacionais de petróleo - o barril subiu 9,15% em Nova York, a US$54,50 -, aço e minério impulsionou as ações ordinárias (ON) da CSN (16,25%) e preferenciais (PN) de Vale (12,96%) e Petrobras (13,85%). Os papéis ON de ambas também subiram: 14,52% e 12,37%, respectivamente. No setor bancário, Itaú PN avançou 15,85%, e as ações do Unibanco (units) ganharam 17,50%. Mas, para Felipe Casotti, economista da Máxima Asset, o clima ainda é de incerteza:

- Até o crédito voltar para a economia, a recuperação deverá ser lenta lá fora e o cenário corporativo pode piorar bastante.

No mercado de câmbio, o Banco Central (BC) fez a rolagem de 34 mil contratos de swap cambial (em que se compromete a vender dólar no futuro, em troca de uma taxa), no valor total de US$1,64 bilhão, que venceriam em dezembro. Para especialistas, o BC tenta adiar a entrega desses dólares para não ter de fazer compras no mercado à vista e pressionar mais a moeda. O BC também vendeu ontem US$495,6 milhões em novos contratos de swap. (Com Juliana Rangel, Ronaldo D"Ercole e agências internacionais)