Título: Lula reúne 36 ministros para unificar discurso
Autor: Gois, Chico de; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 25/11/2008, Economia, p. 23

Temendo onda de pessimismo, governo fará campanha publicitária para dizer que país está preparado para crise.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ontem 36 dos seus 37 ministros na terceira reunião ministerial do ano para unificar o discurso do otimismo que o governo quer transmitir à sociedade. O temor é que uma onda de pessimismo contamine os consumidores, esfriando ainda mais a economia em 2009. Nesse sentido, o governo vai lançar, a partir do dia 10, uma propaganda no rádio, TV, jornais e internet para tentar convencer a população de que não há motivos para pânico nem para deixar de consumir.

Na reunião, que teve como mote a análise da crise financeira internacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou o que o governo já vem dizendo: a crise atinge o Brasil, mas o país está preparado para enfrentá-la e será menos afetado que outros países.

- O Brasil tem uma indústria diversificada e eficiente e uma agricultura com um dos maiores índices de produtividade do mundo. Agora temos um câmbio favorável para a exportação. O cenário não é tão ruim quanto pintam. Pode ser até um cenário bastante razoável - disse Mantega, ao fim do encontro.

Campanha na TV e rádio para incentivar o consumo

Lula, em evento à noite, reforçou a mensagem:

- Todo mundo está vendo a crise internacional 24 horas por dia na TV. Mas todo mundo está percebendo que o Brasil é, neste momento, o país mais seguro e mais preparado para enfrentar essa crise.

Embora não seja tão explícita, a peça publicitária - que terá como slogan "o mundo aprendeu a respeitar o Brasil, e o Brasil confia nos brasileiros" - vai mostrar o efeito dominó que traduz o consumo: ao comprar um produto, o cidadão gera emprego, movimenta a economia e faz o país crescer. A propaganda enfatizará que o governo tomou medidas consideradas acertadas ao diversificar, por exemplo, seu comércio exterior.

O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, disse que o Palácio do Planalto já pensava em fazer uma campanha de fim de ano mostrando os avanços do país, mas, com a crise, modificou-a.

Segundo Mantega, o diferencial brasileiro se deve às medidas tomadas nos últimos anos, que deram solidez à economia. Ele citou o fortalecimento das reservas cambiais - que permanecem acima de US$200 bilhões mesmo depois da fase mais aguda da crise -, a diversificação dos parceiros comerciais no exterior, as medidas fiscais adotadas, como o aumento do superávit primário, e ações emergenciais, como a venda de dólares no mercado, que já consumiram US$47,9 bilhões.

O recado dado pelo presidente Lula, e reforçado por Franklin, é que a atual administração não tem qualquer responsabilidade pela atual turbulência econômica:

- O presidente quis deixar claro que a crise vem de fora. Não foi construída aqui. Dois meses depois o Brasil não veio abaixo. Antes, 72 horas depois de a crise iniciar, o país ficava de joelhos.

Governo pode reduzir tributos de novo

Porta-vozes da reunião, Mantega e Franklin insistiram que a atividade econômica brasileira irá desacelerar, mas não terá quedas semelhantes às de outros países desenvolvidos, que entrarão em recessão. O governo vai perseguir o crescimento de 4% em 2009.

- O Brasil está menos vulnerável à crise, mas isso não significa que não seremos atingidos. Seremos, mas em uma condição melhor - disse o ministro da Fazenda.

O governo sinalizou a possibilidade de novas medidas serem adotadas para melhorar a liquidez do mercado. Mantega disse que, se necessário, o governo vai reduzir tributos como fez na semana passada com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para motos:

- Se necessário for, faremos a redução de tributos. O IOF, por exemplo, reduz custo financeiro - disse ele.

O governo também pretende manter a política de investimentos no próximo ano, para manter aquecida a atividade econômica. Mantega disse que, caso seja necessário fazer cortes de despesas públicas para adequar o Orçamento, a ordem será reduzir custeio da máquina, mantendo os investimentos.

Mantega também garantiu que o crédito está retornando à economia, mas ainda não está normalizado. Segundo ele, os grandes bancos já voltaram a ter as mesmas linhas de antes da crise. As pequenas e médias instituições financeiras, porém, ainda não voltaram a emprestar.

- Estamos com 80% do crédito com que estávamos antes de a crise se tornar mais aguda. Ainda não estamos na normalidade - disse Mantega.