Título: O pensador Larry Summers e o executor Tim Geithner
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 25/11/2008, O Mundo, p. 27
WASHINGTON. Lawrence Summers, um dos principais assessores econômicos de Barack Obama durante a campanha eleitoral, sonhava ser novamente secretário do Tesouro ¿ cargo que ocupara nos últimos dois anos do governo de Bill Clinton. Mas o presidente eleito preferiu Timothy Geithner, atual presidente do Fed de Nova York ¿ um dos 12 postos avançados do Banco Central americano.
O principal motivo para tal decisão, segundo assessores de Obama, foi o estilo de atuação. Summers, que domingo completará 54 anos e é filho de dois economistas e sobrinho de dois prêmios Nobel de Economia, é tão brilhante nessa área quanto rude no trato com as pessoas. Quem trabalhou com ele diz que Summers tem ¿personalidade de tirano¿.
Sem contar que ele tem uma grande tendência a controvérsias. Quando foi diretor dos EUA no Banco Mundial escreveu um memorando sugerindo que os países ricos deveriam exportar poluição para os países em desenvolvimento. Dois anos atrás, teve que renunciar à presidência da Universidade de Harvard devido à língua comprida: em declarações públicas disse que as mulheres, em geral, não têm capacidade de ser brilhantes em matemática e ciência.
Por isso, Obama preferiu manter Summers num posto interno, como seu principal assessor econômico na Casa Branca. Como diretor do Conselho Econômico Nacional, caberá a ele desenvolver a estratégia para combater a crise financeira. As decisões sobre o orçamento e a política tributária ficarão com ele. Ao Tesouro caberá a tarefa de implementar aquele plano.
¿ Summers é o pensador, o sujeito das idéias. Geithner é o executor ¿ disse uma fonte da equipe de Obama.
Ambos são velhos amigos. Foi Summers quem, como secretário do Tesouro, ¿descobriu¿ o talento de Geithner, que ali trabalhava como consultor sobre crises financeiras, na divisão de assuntos internacionais. Summers o promoveu a subsecretário do Tesouro.
¿ É difícil enfrentar Larry (Summers) de igual para igual. Isso é intimidador. Mas Tim (Geithner) é capaz disso. Larry o respeita muito ¿ disse Steven Radelet, que trabalhou com ambos no Tesouro e hoje está no Center for Global Development.
Ao anunciar Geithner como novo chefe do Tesouro, ontem, Obama ressaltou que ele é a pessoa indicada para isso porque, como a crise já se tornou global, será preciso combinar um plano de ação com outros países. E Geithner tem vivência internacional. Filho de um executivo da Fundação Ford, ele viveu na Tailândia e na Índia, além de ter estudado chinês e japonês e ter mestrado em economia internacional e no Leste da Ásia.
Tranqüilo e discreto, Geithner aparenta ter menos do que os seus 47 anos. O seu ar jovial, e o desconhecimento do presidente George W. Bush, provocaram um curioso incidente dias atrás, quando ele, como presidente do Fed nova-iorquino, participou de uma reunião na Casa Branca sobre a crise financeira. Segundo assessores, Bush chamou um deles de lado e apontando para Geithner, perguntou:
¿- Quem trouxe aquele estagiário ali? (José Meirelles Passos)