Título: Presidente em exercício
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 25/11/2008, O Mundo, p. 27

Obama anuncia equipe e já trabalha em plano agressivo contra a crise, ocupando vazio de poder.

Os nomes já eram conhecidos. Eles já tinham sido divulgados extra-oficialmente 24 horas antes. Por isso, quando o presidente eleito, Barack Obama, fez ontem o anúncio oficial dos quatro principais integrantes de sua equipe econômica, a novidade foi a sua postura. Ele agiu como se já tivesse sido empossado, sinalizando ao mercado que está ocupando o vácuo de poder, alimentado pela opaca saída de cena de um presidente com baixíssimo índice de popularidade.

Obama afirmou que ele e sua equipe já começaram a trabalhar na elaboração de um pacote de estímulo que seria proporcional ao tamanho da atual crise financeira. E que isso já está sendo feito em coordenação com o atual governo e com o Congresso que, por sua vez, anunciou que este ano terá um recesso menor, para que o pacote de reformas sugerido por Obama já esteja pronto até no máximo cinco dias antes de sua posse, em 20 de janeiro.

Obama contou ter conversado ontem com o presidente George W. Bush e com o presidente do Fed, o Banco Central, Ben Bernanke:

- O trabalho começa hoje porque está claro que não temos mais um minuto a desperdiçar. Com a nossa economia em agonia, não podemos hesitar ou adiar. Nossas famílias não podem mais se dar ao luxo de continuar esperando, de ficar apenas esperançosas por uma solução. Elas não agüentam mais ver outro mês com contas a pagar sendo empilhadas, outro semestre sem ter como pagar a escola dos filhos, outro mês em que em vez de poupar para a aposentadoria tenham de retirar dinheiro dela só para sobreviver - disse Obama ao apresentar a equipe.

Num claro sinal ao mercado financeiro, o presidente eleito descreveu as linhas básicas de um plano agressivo de recuperação da economia, sem medo de admitir que as suas iniciativas vão aumentar ainda mais o déficit dos Estados Unidos. Como justificativa, ele disse que a crise atual "exige respostas políticas extraordinárias".

Wall Street reagiu positivamente: a bolsa de valores fechou em alta de 370 pontos (6,4%):

- Mesmo que não fizéssemos nada, o déficit seria maior no ano que vem. Portanto, o nosso foco será em primeiro lugar fazer com que a economia volte aos trilhos, com investimentos que sustentem um crescimento de longo prazo - disse ele em entrevista coletiva.

"A economia vai ficar pior antes de melhorar"

Obama tampouco demonstrou receio de dizer aos americanos que eles terão de se sacrificar um pouco mais, pois a situação continuará difícil até que as suas ações comecem a dar resultados práticos.

- Mais uma vez insisto: não será fácil. Não há atalhos nem soluções rápidas para esta crise, que vinha sendo criada há muitos anos. A economia vai provavelmente ficar pior antes de melhorar. Uma recuperação total não acontecerá imediatamente - preveniu, afirmando em seguida que "apesar de tudo isso, estou esperançoso quanto ao futuro".

Em seguida o presidente eleito fez uma convocação geral:

- Tenho total confiança na sabedoria e na criatividade de minha equipe econômica, e no trabalho duro, na coragem e no sacrifício do povo americano. E, acima de tudo, acredito profundamente no espírito resistente dessa nação. Eu sei que podemos encontrar uma saída para esta crise, porque já fizemos isso antes. E sei que teremos êxito mais uma vez, se deixarmos de lado o partidarismo e a política, e trabalharmos juntos. E é exatamente isso o que pretendo fazer como presidente.

Obama se referiu sempre de maneira informal aos quatro integrantes da equipe econômica, chamando-os pelo primeiro nome. Ao apresentar Timothy Geithner como secretário do Tesouro, ele disse que se tratava de alguém com "um entendimento sem paralelo de nossa atual crise econômica, em toda a sua profundidade, complexidade e urgência".

- Tim não vai perder tempo algum para ganhar velocidade - afirmou.

Larry Summers, que será o diretor do Conselho Econômico Nacional, na Casa Branca, foi definido por Obama como "uma das grandes mentes econômicas de nossa era". Obama lembrou que ele foi "o arquiteto central das políticas que levaram à mais longa expansão econômica na história dos EUA, com recordes de superávits, crescente renda familiar e a criação de mais de 20 milhões de empregos" durante o governo de Bill Clinton.

Christina Romer, que chefiará o Grupo de Conselheiros Econômicos, foi apresentada como uma das maiores especialistas na recuperação econômica dos EUA pós-Grande Depressão, e também em política tributária e combate à recessão". Melody Barnes, diretora do Conselho de Política Doméstica, foi definida como "uma das mais respeitadas especialistas em planos de ação política".