Título: Longe das tragédias
Autor: Perboni, Juraci
Fonte: O Globo, 26/11/2008, O País, p. 3

Presidente manda ministros, mas evita ir a locais de acidentes.

BRASÍLIA. Diferentemente de dirigentes de outros países, como EUA e França, o presidente Lula prefere passar longe de tragédias. A cena do presidente Bush numa enchente ou do francês Sarkozy num acidente de ônibus com vítimas fatais de seus conterrâneos não se repetiria no governo Lula. O presidente brasileiro tem evitado ir a locais de tragédias como a desta semana no Sul do país.

No acidente com o avião da TAM, no ano passado, por exemplo, Lula esperou três dias para - pela TV - demonstrar solidariedade às famílias das vítimas. E só o fez depois de pressionado pelas cobranças da opinião pública. O argumento dos marqueteiros do presidente tem sido de que não é bom para um político "colar" sua imagem a tragédias e que ele pode sempre ser alvo de cobrança indesejada das pessoas no local.

Agora, quando Santa Catarina já conta mais de 80 mortos por causa das chuvas que atingiram o estado, Lula ainda não deu sinais de que pretende visitar a área atingida. O Planalto informou ontem que há uma previsão de que o presidente possa ir ao estado, mas isso ainda não está decidido.

Anteontem, Lula pediu um minuto de silêncio em memória dos mortos - em Brasília. Ontem, repetiu o gesto em outro evento - no Planalto. E se dedicou a uma agenda voltada ao exterior: de manhã, recebeu a candidata a presidente do Panamá Balbina Herrera e almoçou com o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong. Depois foi para o Rio para outra solenidade: a abertura do III Congresso Mundial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. À noite, jantou com o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, a quem ofereceu um churrasco no Palácio Laranjeiras.

Se Lula não foi ao local da tragédia, muito menos seus ministros. Só ontem Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, responsável direto pelo assunto, chegou a Santa Catarina. Os ministros dos Transportes, Alfredo Nascimento, e da Saúde, José Gomes Temporão, ainda não repetiram o gesto.

Na Câmara, líderes da oposição cobraram pressa do governo para que envie uma MP com crédito para socorrer as famílias. Os parlamentares do DEM aprovaram moção ao presidente Lula, proposta pelo deputado Paulo Bornhausen (SC), para que seja editada medida provisória (MP) liberando recursos para atender as vítimas da enchente.

- Ele (Lula) foi rápido e pródigo para editar uma MP mandando comida a Cuba. Agora, nem mesmo uma palavra se ouve do presidente sobre o drama de milhares de catarinenses - cobrou Bornhausen.

oglobo.com.br/cultura