Título: Procurador denucnia PF de SP e agrava crise
Autor: Galhardo, Ricardo; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 26/11/2008, O País, p. 9

Ele cobra providências sobre suposto sumiço de drogas e armas e reforça rusgas por causa da Satiagraha.

SÃO PAULO. Uma medida anunciada ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) acirrou a crise institucional em torno da Operação Satiagraha, cujo principal alvo é o banqueiro Daniel Dantas. Um dia depois de o delegado Protógenes Queiroz ter sido excluído do setor de Inteligência da PF, o procurador da República Roberto Dassiê Diana, chefe do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial, anunciou providências para apurar casos de suposto desaparecimento de drogas e armas na superintendência da Polícia Federal em São Paulo nos últimos anos. Ele convocou inspeção da Controladoria Geral da União na PF em São Paulo.

Segundo Dassiê, são freqüentes sumiços de drogas e armas na superintendência da PF em São Paulo. Ele cita o desaparecimento de 530g de cocaína, no final de 2003, sobre o qual não foi instaurado inquérito, e casos ocorridos entre 2004 e 2005. De acordo com o MPF, alguns casos são alvo de investigação da PF. Dassié solicitou correição extraordinária para fiscalizar a PF de São Paulo e requereu a lista dos desaparecimentos registrados nos últimos anos.

Na PF, a medida foi entendida como retaliação ao grupo que assumiu o comando da Satiagraha no lugar de Queiroz.

PF diz que casos já estão sob investigação

Oficialmente, a superintendência da PF informou que não comentará as providências do procurador. Em Brasília, a direção da PF não comentou o caso. Auxiliares do diretor Luiz Fernando Corrêa consideram desnecessários os pedidos do procurador. Segundo eles, coube à própria Polícia Federal descobrir os indícios de irregularidades e iniciar as investigações.

O Ministério Público argumenta que não se trata de retaliação e que o procedimento foi aberto no último dia 17. As críticas do MPF à PF começaram desde o afastamento de Queiroz, em julho. Em outubro, Dassiê escreveu um memorial ao juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal Criminal. Em um dos trechos, ele cita irregularidades da superintendência em São Paulo, defende Queiroz e diz: ¿Há algo de muito estranho nisso tudo¿.

O sumiço de armas e munição ocorreu entre outubro de 2004 e maio de 2005. Houve em fevereiro deste ano o desaparecimento de 30 caixas de cigarros da marca Eight, apreendidos numa investigação de contrabando, e de um livro e um CD-Room enviados pela CPI da Pirataria que instruíam um inquérito sobre o assunto, segundo o procedimento aberto por Dassiê.

O presidente licenciado da Associação dos Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Asbin), Nery Kluwe, confirmou, na CPI dos Grampos, que foi apontado pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, como suspeito de participar da manobra que resultou na divulgação de conversas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Félix fez referência ao suposto envolvimento de Kluwe em reunião com servidores da Abin no último dia 13 na instituição, como revelou O GLOBO.

¿ Nesse colóquio, o general teria afirmado que, lamentavelmente, era um dos nossos colegas ¿ disse Kluwe.

Ele negou ter feito ou divulgado o grampo. Disse que estuda interpelar o general para que ele confirme na Justiça as acusações. Kluwe foi interrogado pela PF e na sindicância do GSI.