Título: EUA: pacotão pró-consumo
Autor:
Fonte: O Globo, 26/11/2008, Economia, p. 21

Plano de US$800 bi tenta reanimar crédito para os consumidores e pequenas empresas.

Da Bloomberg News*

OFederal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou ontem dois novos programas para estimular o crédito, no total de US$800 bilhões. Desta vez, o foco não está nos bancos, mas em mutuários, consumidores e pequenas empresas. O Fed vai comprar US$600 bilhões em dívidas emitidas ou garantidas pelas financiadoras hipotecárias do governo, como Fannie Mae e Freddie Mac. Além disso, haverá um programa de US$200 bilhões para estimular empréstimos a consumidores e pequenas empresas.

- À medida que a economia desacelera, é muito importante que o crédito esteja acessível aos consumidores - afirmou o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, ao comentar os programas em uma entrevista coletiva. - O que estamos fazendo é apoiar o empréstimo ao consumidor.

Paulson disse ainda que os US$200 bilhões são apenas o "ponto de partida" do programa do Fed para fortalecer o crédito a consumidores e pequenas empresas. O BC americano vai oferecer esse montante a instituições financeiras que coloquem os recursos à disposição dos consumidores na forma de cartões de crédito, financiamento de automóveis ou de crédito educacional, bem como de alguns tipos de empréstimo a pequenas empresas. Os recursos estarão disponíveis apenas para novos empréstimos. O BC americano acredita que o programa estará funcionando em fevereiro de 2009.

O Fed afirmou, em nota, que a abertura de novos financiamentos caiu drasticamente em setembro, ficando suspensa em outubro. Os responsáveis pela política monetária esperam que esses programas reduzam os juros de hipotecas e do crédito ao consumidor, compensando, assim, o congelamento dos financiamentos privados.

- Eles estão tentando colocar recursos no sistema, para tentar descongelar os mercados de crédito - disse William Poole, ex-presidente do Fed de St. Louis, à Bloomberg News. - O Fed e o Tesouro estão claramente começando a assumir um grande volume de crédito de risco.

Compra de dívidas e títulos terá US$ 600 bi

O Fed vai comprar até US$100 bilhões em dívidas diretas de Fannie Mae, Freddie Mac e dos bancos federais de empréstimos (12 instituições que trabalham com crédito para consumidores e pequenas empresas). E comprará mais US$500 bilhões em papéis lastreados em hipotecas emitidos por Fannie, Freddie e Ginnie Mae (uma agência do governo que faz seguro para papéis de empresas). Fannie e Freddie têm cerca de US$1,7 trilhão de dívidas em aberto e US$4,1 trilhões de papéis lastreados em hipotecas.

O Fed assegurou que não vai retirar dinheiro de outras áreas do sistema financeiro para compensar essas aquisições. Esses recursos vêm se somar ao pacote de US$700 bilhões, aprovado no início de outubro, para estimular a economia.

- Isso pode melhorar as condições de crédito para os consumidores - disse Derrick Wulf, da corretora Dwight Asset Management. - O Fed está tentando ver o que funciona e o que não funciona. A linha de commercial paper foi uma das coisas que funcionaram.

O programa de papéis lastreados em hipotecas é semelhante à compra de commercial paper (títulos de curto prazo emitidos pelas empresas) pelo Fed. O BC americano poderá manter os papéis e dívidas de Fannie e Freddie até seu vencimento ou vendê-los, explicaram representantes da autoridade monetária.

Futuro secretário participou da elaboração

O Tesouro vai entrar com US$20 bilhões como proteção ao crédito para o programa de US$200 bilhões do Fed, chamado de Term Asset-Backed Securities Loan Facility (Talf). Esses US$20 bilhões virão do pacote de US$700 bilhões. O Tesouro informou que essa linha pode, no futuro, ser expandida. No Talf, o Fed de Nova York vai leiloar, a cada mês, um montante determinado de empréstimos, com prazo de um ano. O programa será encerrado no fim de 2009, a não ser que o Conselho Diretor do Fed decida estendê-lo.

O Fed vai começar a comprar as dívidas diretas de entidades governamentais - Fannie, Freddie e bancos federais de empréstimos - a partir da próxima semana. As compras de títulos devem iniciar no fim do ano. O Fed estima que as operações vão durar alguns trimestres.

Paulson, que vem sendo criticado pelas mudanças de estratégia na luta contra a crise, afirmou que não há uma resposta única:

- É ingênuo pensar que, quando se lida com uma situação dessa magnitude, a aprovação de uma lei ou uma única medida possa resolver os problemas.

Representantes do Tesouro explicaram que têm contato regular com a equipe do presidente eleito, Barack Obama. E afirmaram que o presidente do Fed de Nova York e futuro secretário do Tesouro, Timothy Geithner, participou da elaboração dos programas, mas não como membro do novo governo.

(*) Com agências internacionais