Título: Virada no coração do chavismo
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 26/11/2008, O Mundo, p. 30

Bairro mais pobre e violento de Caracas, Petare derrota máquina do governo e elege opositor.

CARACAS. Falar em Petare na Venezuela é como mencionar o Bronx nos Estados Unidos e Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Não há bairro mais violento nem mais populoso. A pobreza é real e ninguém consegue escapar das ações violentas. O eleitorado dessa região sempre se inclinou para Hugo Chávez ou para seus candidatos. Até que um tal de Carlos Ocariz, candidato do Partido Primeiro Justiça à prefeitura distrital de Sucre, em Caracas ¿ branco em meio a um reduto de negros e mulatos ¿ derrubou a regra com sua vitória nas urnas no domingo.

Há um ano Ocariz sobe com sua equipe pelo menos três vezes por semana as ruas e vielas de Petare. Sempre precisa ligar para as lideranças locais e avisar que vai. Marca um ponto de encontro, e segue de casa em casa cumprimentando os moradores e conversando sobre seus principais problemas.

¿ Esta foi a única forma que encontrei para vencer a máquina chavista. Precisei trabalhar duro. Aqui, lutei contra o governo e não contra um candidato chavista ¿ disse ele.

Chávez, ao perceber que a movimentação dos opositores começava a surtir efeito, chegou a visitar Petare dez vezes nas últimas quatro semanas, mais do que visitou nos quatro meses anteriores. E fez as visitas com seus ministros. Mas o trabalho que vem fazendo há anos poderia ser mais do que as milhares de máquinas de lavar, microondas e colchões que tem distribuído na região.

Petare pertence ao distrito de Sucre, que por sua vez é parte da Prefeitura Metropolitana de Caracas, que está integrada ao estado de Miranda. Se a oposição surpreendeu ao vencer em Caracas e Miranda, é graças ao voto de Petare, onde vivem 80% dos 1,5 milhão de habitantes de Sucre.

¿ Com essa vitória acabamos com o discurso de gente como Chávez que se autodenomina defensor dos pobres. Durante todos esses anos o presidente só tem oferecido ideologia e não soluções para o povo. Em Sucre existem apenas 11 carros de polícia para 1,5 milhão de pessoas e em 30% das escolas públicas não há banheiros. No ano passado, 686 pessoas foram mortas. Esse é o legado do chavismo ¿ disse Ocariz.