Título: Chávez quer referendo para reeleição indefinida
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 26/11/2008, O Mundo, p. 30

Após perder terreno para oposição, presidente pretende aprovar mudança constitucional que o perpetue no poder.

BUENOS AIRES. Dois dias depois de ter perdido o controle de importantes estados e cidades de seu país, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, confirmou o que seus adversários mais temiam: a possibilidade de que seja convocado um novo referendo, desta vez para propor aos venezuelanos uma modificação da Constituição que permita a reeleição indefinida do chefe de Estado. O líder bolivariano assegurou que seu governo não pretende avançar neste sentido, mas disse não poder descartar que um cidadão venezuelano solicite a realização de um plebiscito sobre a reeleição indefinida à Assembléia Nacional, controlada por aliados do presidente. A medida, explicou Chávez, também poderia ser promovida pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV):

- Se o assunto (da reeleição indefinida) for discutido pelo PSUV e ele achar conveniente, podem recolher as assinaturas necessárias e solicitar que seja discutido pela Assembléia Nacional e se for aprovado seria submetido a um referendo.

Reeleição pode ser rejeitada novamente, diz analista

Sem referendo, o mandato de Chávez terminará em 2012. Segundo analistas locais, o cenário atual não favorece o projeto chavista, já que a maioria dos venezuelanos é contra uma nova candidatura de Chávez. A reeleição indefinida foi um dos aspectos mais questionados do projeto de reforma constitucional rejeitado por mais de 50% dos eleitores em dezembro.

- O presidente deve atuar rápido, porque se hoje tem poucas chances, daqui a alguns meses não terá nenhuma. A recessão está chegando e o clima no país só vai piorar - disse Fausto Masó, colunista do "El Nacional".

Segundo ele, a eleição regional de domingo fortaleceu a oposição, sobretudo pela vitória de Antonio Ledezma, da Aliança um Bravo Povo, em Caracas.

- O prefeito metropolitano de Caracas é o segundo cargo político mais importante do país. Foi a grande surpresa para todos, Chávez jamais imaginou que perderia em Caracas - comentou Masó.

O analista venezuelano antecipou uma difícil convivência entre o novo prefeito metropolitano e o presidente:

- Chávez fará o que estiver ao seu alcance para atrapalhar a gestão de Ledezma. Os outros governadores não são tão importantes para o Executivo.

Depois da divulgação do resultado eleitoral, o novo prefeito de Caracas disse que convidará o presidente Chávez para trabalharem juntos.

O tom conciliador de dirigentes opositores contrastou com a atitude adotada pelo presidente. Chávez aconselhou à oposição "administrar sua limitada vitória", ignorando o fato de que seus adversários passarão a governar estados e municípios que juntos representam 45% da população e 70% do PIB. Apesar de ter sido derrotado em regiões pobres do país, como a região de Petare, no município de Sucre, o presidente assegurou que os espaços perdidos se concentram em centros urbanos habitados pela classe média alta.

Em sua primeira entrevista coletiva depois da eleição regional, o presidente assegurou que seus opositores perderam 10% do total de eleitores conquistados nas últimas eleições. Já o PSUV, disse Chávez, cresceu 20%. O presidente pediu calma a seus opositores, "já que ainda tenho quatro anos de governo pela frente". Em mais um capítulo de sua disputa com meios de comunicação, o líder bolivariano antecipou que ordenará ao diretor da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) abrir uma investigação sobre a atuação de um canal de TV que teria transmitido imagens de dois governadores festejando a vitória antes da divulgação do primeiro boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

- Esse canal deve ser punido. Já chega de permitir que alguns senhores atuem como se estivessem acima da Constituição e das leis - enfatizou Chávez.