Título: Governo e rebeldes acusados de violações no Congo
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Fonte: O Globo, 26/11/2008, O Mundo, p. 31

ONU culpa os dois lados por assassinatos, estupros e torturas. Conselho de Direitos Humanos se reúne na sexta.

KINSHASA, Congo. Um relatório preparado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acusou tanto forças do governo quanto os grupos rebeldes tutsi por graves violações de direitos humanos, como assassinatos em massa, estupros e tortura. O Conselho de Direitos Humanos da ONU marcou para esta sexta-feira, em Genebra, uma reunião de emergência para investigar as acusações e um enviado da organização visitará o país no fim de semana para negociar com governo e com rebeldes.

Ontem, o presidente do Congo, Joseph Kabila, recebeu ainda um novo golpe com a divulgação de um relatório da Human Rights Watch, que o acusa de repressão sistemática. O documento foi publicado depois de semanas de lobby do governo congolês para conseguir apoio político e militar de países vizinhos no embate contra os rebeldes.

A organização acusou o governo de ser responsável por 500 mortes com motivações políticas e por mil prisões ilegais desde que Kabila foi eleito, em 2006. O documento diz ainda que o governo disseminou a tortura como forma de coibir a oposição.

¿Situação é motivo para grande preocupação¿

O ex-presidente da Nigéria Olusegun Obasanjo deve chegar em Kinshasa como enviado da ONU no sábado, tendo na agenda encontros com o presidente Kabila e o líder rebelde Laurent Nkunda. Ele retomará conversas iniciadas em 15 e em 16 de novembro entre as partes.

O governo aceitou conversar, mas avisou que será impossível realizar uma negociação com os rebeldes sobre o conflito, que já deixou 250 mil desalojados no país, fora dos termos de um acordo assinado entre as partes em janeiro, mas que a liderança rebelde passou a renegar desde então.

Depois de passar pela capital congolesa, o enviado da ONU deve viajar a Goma, região que nos últimos três meses foi palco de conflitos intensos que forçaram as Nações Unidas a enviarem um reforço de três mil soldados para a missão de paz do país, numa tentativa de evitar a escalada dos embates no leste do Congo. A missão já era composta por 17 mil integrantes.

¿A situação dos direitos humanos no Congo é motivo para grande preocupação¿, disse Ban Ki-moon no relatório.

Segundo ele, membros da polícia e do Exército ¿são responsáveis por um grande número de violações dos direitos humanos, como execuções arbitrárias, estupros, tortura e tratamento cruel, desumano e degradante¿.